25.5.13

Cao Guimarães entre videos, poesia e gambiarras

Da série "Gambiarras"
A poética visual do artista encanta. Para ver as mais de 20 obras da mostra “Ver é uma fábula”, de Cao Guimarães, vá com folga para uma apreciação completa. São 21 obras em exposição, sendo 20 videos, com curadoria de Moacir dos Anjos, projeto expográfico de Marta Bogéa, e desenho sonoro de O Grivo. A mostra ocupa espaços de três andares do Itaú Cultural, em São Paulo, inclusive os de passagem. 

Em uma das escadas, por exemplo, grata surpresa. Ela bem nos serve para sentar para ver as fotos da série "Gambiarras" (2001-2012), projetadas no alto da parede. 

Poesia e o humor nas engenhocas construídas para diversos propósito. Ao utilizar a escadaria do quarto para o terceiro andar para esta experiência visual, a montagem remonta a característica de Cao, em dar novos sentidos às coisas. O improviso, no espaço, o ressignifica em sua função e torna a própria exposição, uma gambiarra. 

"Brasília"
Nas salas tradicionais, mais novidades. Em cada uma, três grandes telas estão penduradas, dispostas em formato triangular, onde são projetados, alternadamente, uma série de filmes. 

As imagens te transcendem e penetram na tua imaginação. Bancos redondos de ampla circunferência são disponibilizados. São vinte vídeos com imagens de Cao e alguns parceiros, com trilhas criadas por Nelson Soares e Marcos Moreira, que formam O Grivo.

A bolha inquilina...
Um deles é “O Inquilino” que em 10 minutos e meio descreve a trajetória de uma bolha de sabão. Em suspensão contínua, sem nunca estourar a bolha flutua por salas, chegando a cantos vazios e paredes destruídas. A trilha realça a tensão emocional.

As formiguinhas em sua quarta-feira de cinzas
"Quarta-feira de cinzas" mostra formigas, que carregam pedaços de papel colorido, como  confetes, usados no Brasil na época do carnaval. 

Há ainda Peiote, feito no México, onde uma criança brinca de luta livre ao estilo do super heróis japoneses, em meio a uma dança oferecida aos índios ancestrais mexicanos.

Outro projeto de Cao, que o reforça como um dos mais incríveis artistas visuais brasileiro é “Histórias do Não ver”, livro que reúne imagens que ele fez às cegas ao viajar por várias cidades do mundo. 

"Histórias do não ver"
Ele pediu a amigos que, nestes lugares, o sequestrassem e o levassem, vendado, a algum espaço que ele fotografou imaginando suas essências apenas ouvindo os sons e ruídos existentes em cada um. Além do livro, que traz texto do artista sobre esta experiência, o projeto também conta o vídeo instalação que está nesta mostra do Itaú. 

A mostra que abriu em março e encerra em 1º de junho, exibiu ainda 8 longas e realizou um workshop com o próprio Cao Guimarães, que falou da carreira e da relação do cinema e das artes plásticas em seu trabalho. O Grivo também participou falando das criações para a obra do artista. 

Em Algodoal...
Belém e Algodoal – Também está na exposição, o vídeo “Da Janela do meu quarto”, feito por Cao, em 2004, época em que o artista esteve também em Belém, participando do “Fluxo de Arte Belém Contemporâneo”. 

O evento, produzido, pelos artistas plásticos Camila Sposati e Tonico Lemos Auad, teve como objetivo instalar um fluxo de intercâmbio de artes, tendo como sede o Museu de Arte de Belém (MABE). Participaram artistas paraenses e londrinos, que ficaram residentes em um casarão, funcionando onde hoje está instalado a Fotativa, na Praça das Mercês.

Dessas trocas e experimentações, surgiu uma exposição, que foi montada no Mabe e onde também foi realizada a programação. O evento contou com três debates, tendo artistas convidados, entre eles Cao Guimarães, que integrou a mesa: “A fotografia: entre documentos da realidade e suporte ficcional e/ou poético”, junto a Luiz Braga, Ben Judd e Rodrigo Moura. 

Além de participar da programação da mostra, ele viajou a ilha de Maiandeua e fez “Da Janela do Meu Quarto”. Em pouco mais de cinco minutos, o vídeo mostra um menino e uma menina se divertindo com movimentos de uma luta sob grossos pingos de chuva, na vila de Algodoal.

Montagem incentiva a viagem pela poética de Cao...
Um sopro - "Ver é uma Fábula" mostra toda a poética e a originalidade de Cao Guimarães, reafirmando sua sensibilidade e inquietação. 

Quem tiver oportunidade de visitar, o faça. É uma bela viagem, feita de luz, cores, movimentos e sons, nos levando a inúmeras reflexões. 

"Um sopro poético na alma", como citou o artista Milton Aires, que também esteve na exposição. Em cada vídeo você constrói a própria fábula. Saiba mais sobre a exposição, no site do Itaú Cultural.

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