Praça do Carmo (Foto: Luciana Medeiros, 2018) |
A Praça do Carmo está gramada, pintada e limpa. Já viu? Ainda não é uma recuperação consistente. O busto de Dom Bosco embora tenha sido lavado demonstra sinais de desgastes, precisa de restauro, e as calçadas também estão danificadas ao redor. Um vídeo divulgado pela prefeitura de Belém mostra outras revitalizações sendo feitas nas praças Frei Caetano Brandão e Dom Pedro II.
Diante da situação grave em que se encontra o centro histórico de Belém, foi uma grata surpresa ver, ontem de tarde, que a Praça do Carmo está recebendo cuidados e que para não voltar ao estado anterior vai precisar receber manutenção também. Há muitos anos que ela amargava o abandono completo, numa situação crítica. O mínimo necessário está sendo feito, mas e o resto? O vídeo da prefeitura me levou às reflexões que há muito venho fazendo.
Naquela área também estão a Praça do Relógio, a Praça da Trindade (Barão do Rio Branco) e a Pracinha da Igreja do Rosário, além da Praça das Mercês, das que de imediato me lembro. São espaços de história, lazer e cultura, mas principalmente as praças tem um papel agregador de convivência para moradores, trabalhadores e visitantes.
Verde Cidadão, na praça do Largo São João - Cidade Velha
(Foto/projeto Verde Cidadão)
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Não jogar lixo nas vias públicas e respeitar o espaço do outro é um bom começo. Nem todos têm essa consciência, mas é bom saber também que a sociedade civil também não está de braços cruzados, vem fazendo a sua parte se organizando e desenvolvendo projetos que somam esforços para garantir a todos o Direito à Cidade.
Moradores e público ocupam espaços públicos
Ação de moradores na Praça das Mercês (Foto: Associação
Amigos de Belém)
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Teve ação do Verde Cidadão, que plantou mais de 200 mudas e ainda a Rede Solidária de Sustentabilidade e Segurança da Cidade Velha realizou coleta de lixo. Na Campina, a Associação Amigos de Belém também realizou uma ação ambiental com fotografia e coleta de lixo, na Praça das Mercês.
No Mercado do Sal, o Coletivo Aparelho fez Mostra de Contação de Histórias trazendo para a plateia crianças e adultos residentes nas comunidades que ficam no entorno do Porto do Sal. Um trabalho de aproximação e envolvimento que vem se intensificando cotidianamente, em diversas outras ações, como a criação da Biblioteca do Porto, as oficinas de flauta doce e de capoeira, esta última ocupando, olha aí, o anfiteatro da Praça do Carmo.
Registro da visita ao Arquivo Público, prédio restaurado.
Foto: Marcos André/Roteiros Geo Turísticos
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Posso citar ainda as Associações de Moradores e Comerciantes da Campina, que tem promovido algumas ações de revitalização na pracinha da Igreja do Rosário, reúne a comunidade, dialoga com a polícia, e dos Micro Empreendedores do Beco do Carmo. Ah e te a novíssima iniciativa da Rede Sereia, formada por moradores da Cidade Velha. Além de realizar ações como a Feira Movimenta e o Sereia na Rua, cinema ao ar livre que estreou nessa última edição do Circular, na Rua Gurupá, o movimento busca retomar as relações de vizinhança no bairro.
Deixar as praças limpas e bem cuidadas é um dever de qualquer administração pública municipal, mas tudo se torna um detalhe quando se pensa de maneira mais ampla sobre o centro histórico de Belém. Uma das reivindicações da Rede Sereia, por exemplo, é a atenção ao Palacete Pinho, outro prédio monumental, tombado, que está abandonado e sem uso público.
Patrimônio arquitetônico e histórico em agonia
Palácio Antônio Lemos,
(Foto: Luciana Medeiros/Holofote Virtual)
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Há cerca de 200 casarões em situação de risco por terem sido abandonados pelos donos, segundo dados da própria Fumbel, que na administração pública é responsável por um prédio tombado, o Palácio Antônio Lemos, e que abriga o Museu de Arte de Belém, cujo acervo soma 1600 peças, entre pinturas, mobiliários, esculturas e fotografias. Um valioso patrimônio público da cidade, cuja história é contada pela perspectiva das artes, mas que atualmente está inacessível.
Entrei pela última vez lá em março, um ano depois de um incêndio que atingiu salas e documentos, e a situação é a mesma. Nesta visita, apenas uma das galerias estava funcionando, no térreo. A ala superior atingida pelo fogo provocado por um curto circuito segue interditada ao público.
Em 2017, após o sinistro, no dia 9 de março, foram realizadas ações emergenciais para evitar os fungos nas publicações. Na época conversei com a presidente da Fumbel, Eva Franco para uma reportagem que foi publicada na Revista Circular (Set./Out. 2017).
Ela recebeu, no dia seguinte ao ocorrido, os funcionários do museu que foram solicitar providencias e recursos necessários pra a recuperação do acervo bibliográfico e de todo o acervo exposto nas Salas do andar superior que ficaram cobertos e sedimentados de fuligem da fumaça negra tóxica, mas nada foi feito. E estes vestígios continuam lá até hoje, inviabilizando o uso público do prédio.
Ela recebeu, no dia seguinte ao ocorrido, os funcionários do museu que foram solicitar providencias e recursos necessários pra a recuperação do acervo bibliográfico e de todo o acervo exposto nas Salas do andar superior que ficaram cobertos e sedimentados de fuligem da fumaça negra tóxica, mas nada foi feito. E estes vestígios continuam lá até hoje, inviabilizando o uso público do prédio.
Cerimônia da prefeitura, no MEHP (Foto: Luciana Medeiros/Holofote Virtual) |
O Antônio Lemos também abrigava a sede municipal, onde sempre esteve o gabinete do prefeito, hoje alocado na sede de outro órgão público municipal.
Esse tipo de mudança, aliás, me lembra a situação da Fumbel, órgão diretamente ligado à política cultural do município e que está sediada, por tempo indeterminado, no Memorial dos Povos, se expandindo para o Palacete Bolonha. A mudança se deve à destruição do prédio histórico que era próprio da fundação, situado no Complexo Feliz Lusitânia, que em 2015 começou a dar muitos problemas estruturais.
Numa chuva daquelas fortes o prédio inundou, depois o teto desabou. Em 2016 sofreu um princípio de incêndio e ponto final. Está lá abandonado, completamente abandonado, mas agora sob a tutela do Estado, até onde sei, que contava com o espaço para integrar o Pólo Gastronômico, um projeto que já gerou muita polêmica na cidade.
Diversos prédios estão depredados, no entanto, há outra questão. O quesito número um nas queixas de quem vive o centro histórico de Belém é a insegurança, o que não é “privilégio” dos bairros históricos, a cidade toda vive ondas de violência. Como trabalhar tudo isso, que políticas o públicas devem ser implementadas para viabilizar aquela área histórica em suas funções primordiais, ligadas a história, à cultural, patrimônio e turismo? Há salvação para o Centro Histórico de Belém?
A aquisição do prédio dos Mercedários pela UFPA trouxe esperança. A instituição vai implantar ali cursos de restauros entre outras ações que se conectarão com o entorno dos bairros da Campina e Cidade Velha. Outra ação importante será a realização de um Fórum, organizado pelo projeto Circular Campina Cidade Velha, convidando a sociedade civil, iniciativa privada e governo a um debate produtivo sobre o Direito à Cidade, aprofundando essas e outras questões tão urgentes e necessárias.
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