O recital integra a programação do Festival de Ópera do Theatro da Paz. A obra do compositor será interpretada pela soprano Carmem Monarcha e pela pianista Lenora Brito, num espetáculo dirigido por Maria Sylvia Nunes. Domingo, 25, na igreja de Santo Alexandre, às 20h, entrada franca.
Quem foi Gentil Puget? A questão que surgiu desde que o XI
Festival de Ópera do Theatro da Paz divulgou o recital em homenagem ao
centenário do compositor paraense não é fácil de ser respondida.
Contemporâneo a Waldemar Henrique e do mesmo grupo artístico de Bruno de Menezes e Dalcídio Jurandir, modernistas que tinham um ideal de fazer com que a música do Pará brilhasse, ao firmar uma personalidade regional a ela, Puget era um homem tímido e morreu cedo, antes de completar 40 anos, no Rio de Janeiro. Sua família era contrária a sua carreira artística e por isso apresenta-lo ao público foi um desafio assumido pela direção do festival, que convidou três mulheres para assumir esta missão.
Para apresentar a obra de Puget aos paraenses, a cantora lírica Carmen Monarcha e a pianista Lenora Brito se uniram em um processo de resgate e homenagem, dirigido pela intelectual Maria Sylvia Nunes. A tríade paraense peneirou em parcos documentos a história e face de Gentil Puget e destrinchou suas partituras em busca de sua música e seu ritmo.
O espetáculo promete a interpretação magnífica de Carmen Monarcha, reconhecida por sua performance nos palcos nacionais e internacionais e o acompanhamento impecável de Lenora Brito, uma das maiores pianistas do estado.
Maria Sylvia, que assina a direção do recital, falou sobre o processo de pesquisa e concepção artística da apresentação. “Apenas algumas pessoas ouviram falar em Gentil Puget, mas quase ninguém conhece a sua obra, a não ser as pessoas contemporâneas a ele. Era algo que estávamos devendo a todos, fazer uma mostra do que ele fez, fazê-lo conhecido", diz.
"A ideia de homenageá-lo partiu do Dr. Gilberto Chaves, que me convidou a participar do espetáculo, aceitei imediatamente. As canções de Gentil Puget são bastante populares, algumas são como pontos de macumba, outras tipicamente folclóricas e outras entoam a velha tradição da seresta. O pouco que existe sobre a vida e trajetória dele está abrigada no Museu da UFPA É um prazer revelar este autor ao público”, comemora Mara Sylvia.
Carmen Monarcha veio a Belém especialmente para a homenagem. Em maio deste ano a cantora esteve em Belém e realizou os primeiros ensaios e retornou agora para afinar os últimos acordes. “É uma grande emoção estar revelando este compositor para o público paraense. Fazer isso ao lado de Lenora e Maria Sylvia, que são duas pessoas de quem sou muito próxima é ainda melhor. Gentil Puget é um grande autor, tão pouco conhecido.
Participar desta descoberta, revelar este repertório que possui o nosso palavreado, que representa nosso povo, nossos costumes é muito bom e muito importante para a cultura do Pará”, diz a soprano.
As composições de Gentil Puget giram em torno de temas regionais. Suas canções cantam os caboclos, os mitos e cotidiano do povo paraense, característica do movimento modernista que valorizava os traços específicos da cultura brasileira e regional. A pianista Lenora Brito avalia as razões do compositor ser tão pouco conhecido.
“É muito complicado a pessoa ser contemporânea de um grande nome, isso aconteceu com Bethoven e Schubert em Viena, entranto hoje Schubert é um compositor consagrado, considerado o criador dos líder, canções alemães. O Puget ficou meio engolido pela personalidade e sorte do Waldemar que tinha a sua irmã Mara para cantar. O Gentil estudava música escondido, seus pais não queriam que ele fosse artista, e não tinha nenhuma interprete para cantar suas composições”, lamenta Lenora.
Segundo Celeste Proença, Puget era um homem tímido e reservado. O compositor era muito amigo da família da professora e costumava passar as tardes na casa dos pais dela tocando piano, compondo e cantando com as jovens Celeste e Adalgiza.
“Ele era muito amigo da minha família, um homem muito educado, fino, inteligente e talentoso, mas muito acanhado. A família dele não gostava que ele fosse músico e atrapalhava como podia a verve artística dele.
Na casa de meus pais ele encontrava conforto e nós cantávamos muito suas belas canções. O recital do dia 25 é muito merecido, apresentar as composições dele para o público é maravilhoso”, disse Celeste.
Gentil Puget, depois de encontrar grandes dificuldades de firmar sua carreira em Belém mudou-se para o Rio de Janeiro no começo da década de 30. Em terras cariocas ficou amigo de Eneida de Moraes, conhecida por acolher os paraenses que chegavam na Cidade Maravilhosa. Lá ele adquiriu hábitos ainda mais boêmios dos que já tinha em Belém e uma tuberculose lhe tirou a vida, antes de completar quarenta anos.
A comemoração de seu centenário, planejada pelo XI Festival de Ópera do Theatro da Paz, pretende fazê-lo conhecido do grande público paraense e permitir a ele o espaço que merece na história da música e cultura do estado. Promete ser um dos momentos inesquecíveis do evento.
Serviço
Na programação do XI Festival de Ópera do Theatro da Paz. Estreia da ópera de Salomé, 24, às 20h, no Theatro da Paz. Recital Centenário de Gentil Puget, neste domingo, 25, às 20h, na Igreja de Santo Alexandre, com a soprano Carmem Monarcha e a pianista Lenora Brito. Direção de Maria Sylvia Nunes e iluminação de Rubens Almeida. Nos dias 26 e 28 haverá récita da ópera Salomé, às 20h. O encerramento do evento será dia 1º de dezembro, às 20h, em frente ao teatro. Patrocínio Secult, Governo do Estado, com realização do Theatro da Paz e apoio da Academia Paraense de Música e Fundação Amazônica de Música. Mais informações: 4009.8750.
(Agência Pará - Fotos: Rodolfo OLiveria/Texto: Julia Garcia)
(Agência Pará - Fotos: Rodolfo OLiveria/Texto: Julia Garcia)
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