Um piloto poeta, um menino curioso, um ser guiado pelas estrelas. O “Pequeno Príncipe” viajou pelo mundo, decifrou o céu e criou laços entre as pessoas. Foi inspirado na obra prima de Antoine de Saint-Exupéry, que o grupo Dirigível Coletivo de Teatro montou “O Pequeno Grande Aviador e o Planeta do invisível”, em cartaz em Belém até este domingo, sempre às 20h, no Teatro Cuíra (R. 1º de Março, com a Riachuelo – Pça da República). Projeto Pauta Mínima. Ingresso a R$ 20,00 (R$ 10,00 - meia entrada). A diretora do grupo Ana Carolina Marceliano bateu um papo com o blog e falou mais sobre o espetáculo.
As frases que ele ouviu ou disse ficaram no inconsciente coletivo da humanidade. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, “O verdadeiro amor nunca se desgasta, quanto mais se dá, mais se tem” e “Só conheço uma liberdade e esta é a liberdade do pensamento”, são algumas delas.
Na história francesa, um pequeno príncipe nos convida a olhar com atenção o planeta que habitamos, cheio de presentes oferecidos pela natureza. Presentes aparentes ou escondidos, renováveis ou limitados, mas que revelam segredos quando os observamos com o olhar de uma criança.
“O Pequeno Aviador”, do Dirigível Coletivo tem sotaque próprio, é paraense. Ainda que guarde muitas semelhanças com o do livro inspirador, ainda assim há significativas diferenças. A história original foi hibridizada à vida dos próprios encenadores, trazendo um tom poético à montagem, que também tem uma trilha musical original executada ao vivo.
Ao todo são 12 atores em cena. No início do espetáculo, eles vestem figurinos idênticos. Ao longo da apresentação, as vestimentas são modificadas para revelar os personagens que povoam o universo do "Pequeno Príncipe”.
A adaptação foi feita no ano passado, partindo do projeto Jovens Encenadores, do Grupo de Teatro da Universidade – GTU/ETDUFPA.
Encerrrado o processo, a turma resolveu montar o próprio grupo e levar o espetáculo para outros espaços. O resultado é que de 2011 até agora, já foram cerca de 30 apresentações.
Estima-se que mais de 3.000 pessoas já o tenham visto nas temporadas que passaram pelo Teatro Cláudio Barradas, pelo Hangar, durante a Feira Pan Amazônica do Livro deste ano, Campus da UFPA de Marabá e Teatro Cine Marrocos, também no município, situado no sul do Pará. Também esteve no do IAP e ETDUFPA, sem contar com os ensaios que foram realizados nas ruas de Belém.
Fora daqui, O Pequeno Aviador também foi apresentado no Galpão Cine-Horto, em Belo Horizonte, durante o Festival Estudantil de Teatro.
“O Pequeno Grande Aviador e o Planeta do Invisível” é a primeira direção da atriz Ana Carolina Marceliano que começou a estudar teatro AID Ana infância, aos sete anos, já na Escola de Teatro e Dança da UFPA, em suas oficinas do curso livre.
Formada em 2009 pelo curso técnico de ator da ETDUFPA, este ano ela concluí a graduação com Licenciatura em Teatro. Aninha, como é chamada pelos amigos, integra a primeira turma deste curso superior em teatro no Pará.
Ana atuando em "Verbus" (foto: Alan Soares) |
Holofote Virtual: As pessoas
sempre se deixam seduzir pelo Pequeno Príncipe. O que o teu Pequeno
Aviador tem de diferente do personagem criado pelo Saint Exupery?
Ana Carolina: Este
Pequeno Príncipe consegue uma empatia enorme do público, principalmente
dos adultos, as crianças se divertem, mas vejo principalmente os
adultos assistindo ao espetáculo com um sorriso no rosto do inicio ao
fim, acredito que isto acontece porque o espetáculo leva o adulto à
visitar a infância de novo, re-encontrar seus pequenos príncipes.
A
diferença entre o aviador do livro e do espetáculo é tremenda! O do
livro é Francês, o nosso é brasileiro, paraense, ele fala com o nosso
jeito de falar, ele é de carne e osso e por isso vem junto com a
personalidade e aparência física de cada um dos atores, então, o pequeno
príncipe, por exemplo, nem sempre é loiro e caucasiano, às vezes ele é
gordinho, às vezes é negro, mulher. À final, todo mundo pode ser pequeno
príncipe, é só querer.
Holofote Virtual: Dentro desta dramaturgia, o que você destaca?
Ana Carolina: Bom, o que mais me agrada no aspecto dramatúrgico do espetáculo é que ele não tem intenção de explicar nada ao espectador, e sim de fazê-lo sentir, se emocionar, se divertir. É uma construção bem complexa porque abarca a história fabulosa do Pequeno Príncipe e ao mesmo tempo fala da cidade em que vivemos, criando um universo ficcional da França/Belém/Viagem intergalática.
Outra coisa que eu adoro, é que contamos a nossa versão da história, sempre achei que montar um espetáculo baseado no livro do pequeno príncipe teria grande chance de decepcionar o espectador por completo, pois, jamais seria possível reproduzir em cena o que a imaginação de cada um cria quando lê um livro, então decidimos contar a história do nosso pequeno príncipe, tem dado certo.
Holofote Virtual: Vocês trabalham com a cenografia e o figurino como elements que também contam a história. Fala um pouco de como isso funciona dentro do espetáculo.
Ana Carolina: Toda a criação foi extremamente coletiva. O grupo dividiu-se em pequenas equipes de trabalho, então todas as ideias de construção de musicas, de cenário, de figurinos, de maquiagem, tudo foi discutido abertamente entre todos. O elenco todo veste o mesmo figurino, no princípio um uniforme de piloto, que durante o correr do espetáculo se transforma nos demais personagens, o Pequeno Príncipe, a Rosa, os Vulcões, o Matemático, o Rei... Fizemos isto porque tem a ver com a mensagem maior que o espetáculo propõe que é "Qualquer um pode ser Pequeno Príncipe".
Não existe portanto, um ator que protagoniza a história, todos podemos encontrar a nossa criança de vez em quando e sermos protagonistas de nossa história.
Os elementos cenográficos são simples, e também se transformam em diferentes lugares, viram um palco, um bode, um banco, uma mesa, uma cama, uma caixa, algumas estrelas; como se fosse a folha em branco onde desenhamos esta história.
As músicas do espetáculo são também um dos pontos fortes, praticamente todas são de autoria do grupo e algumas, inclusive, são em francês, mas que não perdem a conexão com os ritmos da região como o carimbó ou o lundum.
Holofote Virtual: 12 atores em cena. Dirigir tanta gente assim não é mais difícil?
Ana Carolina: É muito difícil, mas muito prazeroso porque o grupo se ama muito. Somos meio apaixonados uns pelos outros, e por fazer teatro. O grupo me acha durona, porque sou bem chata às vezes com a disciplina. Mas respeitar o tempo de cada um e manter o prazer e a leveza durante os ensaios tem sido sempre a melhor saída.
Holofote Virtual: Vocês encerraram o processo no GTU e fundaram o Dirigível Coletivo de Teatro.
Holofote Virtual: Como vem sendo desenvolvido o trabalho de vocês? É um grupo "dirigível" mesmo?
Ana Carolina: É. O nome do coletivo de alguma maneira abarca a poética de trabalho que adotamos, buscamos dentro desse grupo crescer enquanto artistas, desenvolver nosso trabalho, melhorar sempre, melhorando diariamente da nossa formação. E uma das maneiras encontradas é que estamos sempre mudando de função dentro do Grupo.
Isto é, se no "Aviador" eu fiz o papel da direção geral, no espetáculo seguinte que foi o "Sucata e Diamante", onde eu me coloquei na função de atriz, e até de percussionista, e quem assumiu a direção geral foi o Enoque Paulino, que no Aviador é um dos atores. Ou seja, com isso conseguimos nos manter sempre aprendendo e nos desafiando ao assumir novas funções e responsabilidades. Dirigível sim! Difícil, mas dirigível!
Holofote Virtual: Você dirige, escreve e também está fazendo figurino...
Ana Carolina: É. Eu sou apaixonada por teatro, tudo nele me encanta. Quero transitar por todos os lados, criar figurino é a minha mais nova empreitada. É MUUUUITO difícil! Ao longo da trajetória com teatro sempre foi necessário vez ou outra pensar no figurino para o meu trabalho, mas minha primeira tentativa com um espetáculo de fato foi no "Sucata e Diamante", do próprio Dirigível.
Em seguida recebi o convite dos amigos circenses para pensar no figurino para o "Te vira, Tu não és de Circo?". Ainda estou apanhando muito, mas pretendo me dedicar cada vez mais a aprender a fazer isso.
Holofote Virtual: O Dirigível foi um dos grupos selecionados no projeto Pauta Mínima, mas é a primeira vez que vocês se apresentam no Teatro Cuíra. O espetáculo sofreu adaptações para o espaço?
Ana Carolina: É a primeira vez que vamos para o Cuíra. Estamos com a expectativa lá em cima, pois o espetáculo já se apresentou em vários formatos de palco, mas pouco em Teatro Italiano, como é no Cuíra. Acredito que a experiência no Cuíra será maravilhosa, porque iremos dispor de toda a iluminação, som, projeção, enfim, estrutura que o teatro nos oferece.
O espetáculo tem circulado por espaços diferentes. Dificilmente o apresentamos em sua completude, sempre fica uma iluminação a desejar, ou acontece sem as projeções. São pequenas dificuldades do dia-dia. Mas no Cuíra posso dizer que ele será completo, da melhor maneira possível.
Além é claro da expectativa que temos de conhecer o público deles, uma vez que, sabemos, o teatro ao longo deste tempo de existência formou uma plateia fiel, ligada em suas programações.
A iniciativa de lançar o edital é maravilhosa. O Grupo Cuíra tem uma trajetória admirável, e esta é mais uma das iniciativas louváveis: abrir seu espaço, que é privado, para receber outros grupos, que como ele, persistem na luta diária por sua sobrevivência. Uma vez que, infelizmente, o descaso com a arte e cultura é grande por parte do poder público na cidade e no estado, precisamos, portanto, aplaudir a dedicação do grupo em fomentar a arte e cultura em Belém.
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