6.9.16

“Aquarius” além dos protestos e com nada a temer

“Aquarius”, do diretor Kleber Mendonça Filho, ganha pré-estreia hoje (6), em Belém, às 20h, no Cine Líbero Luxardo. O segundo longa de ficção do diretor pernambucano foi premiado no final do mês de agosto, como melhor filme, apontado pelo júri, do World Cinema Amsterdam, festival de cinema da Holanda. Chega aos cinemas brasileiros rodeado de polêmicas, admiração e curiosidade no público, que tem lotado as salas de exibição. Além disso, embora tenham atentado contra, o longa foi confirmado entre os inscritos para tentar representar o Brasil no Oscar 2017. A lista foi divulgada ontem (5), pelo Ministério da Cultura.

No Brasil, onde estreia, "Aquarius" tem causado burburinhos em salas lotadas. Em Brasilia, o primeiro dia de exibição oficial do longa foi marcado por protesto contra o presidente Michel Temer. Assim como foi no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nos créditos finais do filme um recado bem direto foi inserido pelo diretor ao lado da ficha técnica:  "Nada a temer".

Dirigido por ex-crítico de cinema, da imprensa de Recife (PE), que tem na trajetória o curta Recife Frio, e a estreia na ficção de longa metragem, com "O Som ao Redor", "Aquarius" tem dividido a crítica 'especializada'. Entre as opiniões estão as que celebram e dizem que  Kleber Mendonça Filho se supera como diretor, e as que colocam em dúvida de que este seja o melhor filme brasileiro realmente a representar o Brasil no Oscar.

Na atual conjuntura, muito pouco importa, na minha opinião, o fato é que "Aquarius", neste momento, nos traduz. É como se fossemos todos a jornalista Clara, interpretada por Sonia Braga, e o atual governo, a empreiteira querendo nos tirar os direitos.

Uma história de resistência

"Aquarius" traz uma história de resistência à mudança. A atriz Sônia Braga, que há muito tempo não fazia cinema brasileiro é Clara, uma jornalista aposentada, 65, viúva e mãe de três filhos já adultos, que vive no mesmo apartamento que pertenceu à sua mãe, no tradicional edifício Aquarius, no Recife. 

Doente de câncer, ela enfrenta sozinha os responsáveis por uma construtora interessados em construir um novo prédio ali, e que já conseguiram adquirir quase todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaça para que mude de ideia.

Para embalar a trama, ou o drama, Aquarius traz uma trilha sonora interessante, que vai de Queen a Reginaldo Rossi, passando por clássicas da MPB e do antigo rock nacional, nas vozes da Maria Bethânia e Roberto Carlos, na época da Jovem Guarda.

Polêmicas ao redor

A trajetória de "Aquarius" vem carregada de polêmica. Depois do protesto do elenco em maio no Festival de Cannes, veio a problemática quanto a faixa etária classificatória do filme determinada em 18 anos, às vésperas da estreia do filme, pelo Ministério Público. 

A censura foi protestada por vários diretores que ameaçaram retiraram seus filmes à candidatura ao Oscar 2017. Sonia Braga soltou o verbo na imprensa e disse que os jovens deveriam protestar pelo direito de assistir ao filme, proibido para menores de 18 anos.

O MP, então, voltou atrás e agora jovens de 16 anos podem ver o filme e até mesmo menores, se acompanhados por um responsável. De acordo com noticias já publicadas, “Aquarius” tem três cenas de sexo. Uma delas retrata uma orgia, em que é possível ver um pênis ereto, mas sem penetração explícita.  Ao todo, há 13 ou 14 segundos de elementos que poderiam ser considerados sexuais no filme, comentou o diretor na estreia de quinta, 1, no Rio de Janeiro.

A censura foi atribuída a retaliação pelo já célebre protesto realizado em maio no Festival de Cannes, quando os atores levantaram plaquinhas de #foratemer, gritando ao mundo que no Brasil estamos sofrendo um grande golpe. 

Na ocasião, a atriz paraense, Maeve Jinkings, que integra o elenco disse à imprensa que “este governo tem dado todos os indicativos de que quer sabotar a trajetória do filme. Ao mesmo tempo, a comunidade cinematográfica tem se unido para resistir”, disse Maeve durante o festival de Cannes.

Serviço
Pré-estreia de “Aquarius” (Pré estreia). Nesta terça-feira, 6, às 20h, no Cine Líbero Luxardo - Fundação Cultural do Estado do Pará - Av. Gentil Bittencourt, 650, Nazaré. CENTUR. Ingressos: R$ 10,00, com meia entrada para estudantes.

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