"Refestança dança, dança, dança. Dança quem pode dançar. Refestança canta, canta, canta. Canta quem pode cantar. Na hora aqui agora quando a banda tocar. Senhoras e senhores, crianças vamos voar". O compositor ganha noite musical sob as bênçãos da lua e da maré cheia, que alcança sua preia-mar um pouco antes da meia noite. Nesta sexta-feira, 16, no Tábuas de Maré.
A obra setentista do compositor será revirada e interpretada por Olivar Barreto e banda formada por Renato Torres, Mauricio Panzera, Joel Leal e Tiago Belém. A noite traz participações da pesada, de Iara Mê, Joelma Kláudia, Anne Dias e Danniel Lima, e conta ainda com o grupo Loxodonta Groove. Gil merece todas as homenagens.
Artista consagrado da música popular brasileira, Gil construiu uma carreira ímpar, ativada pelo movimento cultural do Tropicalismo, trazendo junto diversos outros artistas, músicos e compositores baianos, no final dos anos 1960. Na época, foi preso poucos dias depois de decretado o Ato Institucional Número 5, em 1968, Gil foi preso, junto com Caetano Veloso em São Paulo, levados ao Rio de Janeiro, onde passaram por vários quarteis, e ainda por uma prisão domiciliar, em Salvador, antes de partirem ao exílio, em Londres.
Não por acaso, em 1969, quando compôs “Aquele Abraço”, uma de suas canções mais populares, Gil rendia homenagem a cidade fluminense, mas também fazia ali uma crítica à ditadura militar. Mais de quarenta anos depois, Gil e Caetano vivenciam, junto com todos nós, um novo golpe no país. Já falaram sobre o assunto em entrevistas. Caetano, mais recentemente em um show fora do país.
Gil, ainda em 2015, afirmava que o Brasil passava por um tipo de “delírio político tentando legitimar uma aventura jurídica com o pedido de impeachment de Dilma Rousseff”. Na ocasião, pediu mobilização popular contra o impedimento da presidente. Visionário, sempre, neste caso, ele só precisava mesmo era ter lucidez e experiência com esse tipo de coisa pra ser tão certeiro.
De 2003 a 2008, Gil foi Ministro da Cultura e deu grande contribuição à implementação de políticas fundamentais para a afirmação de economia criativa, solidária, colaborativa, participativa e inclusiva. Em seu discurso de posse nos deu outros parâmetros para o que se entendia como política cultural.
Disse que entendia a cultura “como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos”.
Carregando no sangue as tradições ancestrais africanas, com influencias das manifestações culturais de origem negra, que atravessam sua obra repleta de beleza, cores e alegria, reconhecendo ainda as lutas e conquistas do povo negro brasileiro, aos 74 anos, Gil não anda muito bem de saúde, vem enfrentando internações repetidas para tratar uma insuficiência renal. Participou recentemente da abertura das Olimpíadas nitidamente afetado por este processo.
A homenagem da Black Soul Samba nesta sexta-feira, 16, é mais do que oportuna, pra que não percamos o rebolado, muito pelo contrário, vamos comer, beber e comemorar Gil, que nos convidou a “Andar com fé”, ainda que sejam muitos os percalços do caminho.
Olivar Barreto escolhe repertório setentista
Considerado um dos grandes interpretes do Pará, Olivar Barreto se coloca antes de tudo como grande admirador do trabalho de Gilberto Gil, que segundo ele, "tem o poder musical de conseguir falar de diversas questões, espirituais, filosóficas... e também consegue comunicar com as novas gerações. Ele está sempre ativo com os novos compositores, o trabalho dele é super jovem e faz ele ficar sempre à frente do seu tempo", acredita.
A homenagem a um dos pilares mais importantes da música brasileira contará com repertório da trilogia "Refavela", "Refazenda" e "Realce", incluindo ainda o "Expresso 2222", obras clássicas do eterno tropicalista Gilberto Gil. Para Olivar, "cantar Gil é sempre um desafio pois ele é difícil de cantar e precisa ter um cuidado maior para tratar uma obra com tantos detalhes com é o trabalho de Gil", finaliza Olivar Barreto.
Funk Jazz na abertura da noite
Loxodonta é o nome científico do elefante africano, o poderoso animal de gigantes dentes que se destaca no meio da fauna do continente da África. Groove é um termo em inglês que quer dizer algo como "ritmo", aquilo que transforma a música naquilo que ela é: uma mistura de sons que formam o ritmo e conquista os ouvidos. A união dessas duas palavras, forma o título do primeiro álbum do baixista paraense Rafael Azevedo: "Loxodonta Groove", trabalho que o músico apresenta na noite desta sexta-feira, abrindo a Black Soul Samba deste dia 16.
Formado por faixas inéditas, o primeiro trabalho de Rafael Azevedo é fruto de quase vinte anos de carreira do músico, que já transitou em diversos gêneros musicais através da parceria com inúmeros artistas da terra, entre importantes nomes do cenário nacional.
"Loxodonta Groove" é o seu primeiro álbum composto por nove faixas inéditas - com exceção da regravação da canção de autoria do amigo Pedrinho Callado - que dialogam com o mais genuíno Funk Music, indo de referências clássicas às atuais, numa mistura de sons que também carregam uma autêntica veia musical de quem vivencia o gênero de origem afro que serviu de influência para diversas gerações de músicos pelo mundo.
Multi-instrumentista, Rafael Azevedo cuida de todos os detalhes do trabalho: responsável por toda a produção musical do álbum, gravou sozinho a maioria dos instrumentos que estão nas músicas que também compôs.
Uma das grandes referências pessoais de Rafael, tanto como músico quanto como amigo, é o instrumentista paraense Calibre, um dos mais importantes nomes da música do estado do Pará. Calibre é uma das inspirações para Rafael Azevedo: "Ele foi a principal influência para que eu entrasse no mundo da música instrumental", afirma o músico que tem Calibre como um dos grandes conselheiros de sua carreira.
A noite promete emoções e encontros. Além do Loxodonta Groove, vai ter também os DJs Uirá Seidl, Fernando Wanzeler, Eddie Pereira e Daniel Bandeira. O evento conta com apoio do Cultura Studio e Eupatrocino Crowdfunding.
Serviço
Black Soul Samba homenagea Gilberto Gil com Olivar Barreto e abertura de Loxodonta Groove de Rafael Azevedo. Nesta sexta-feira, 16, a partir das 21h, no Tábuas de Maré - Rua São Boaventura, 156, Cidade Velha, próximo a Avenida Tamandaré. Ingressos: R$ 20,00 - com meia-entrada para estudantes. Informações gerais: (91) 98362 1793.
Nenhum comentário:
Postar um comentário