1.9.16

Casa do Gilson prepara melhores dias para o Choro

O tradicional reduto dos chorões de Belém passa por um grande momento: uma reforma estrutural que vai garantir mais conforto aos músicos, ao público, aos funcionários e ao próprio Gilson Rodrigues, proprietário do espaço cultural que funciona dentro de sua própria residência, situada na Trav. Padre Eutíquio, no bairro da Condor.

Aos finais de semana, ele abre as portas para os amantes do Choro e do Samba, mas agora está fechado para as obras. Uma programação a ser realizada em novembro vai festejar o novo ambiente. O projeto de reforma foi contemplado pelo edital Prêmio Funarte de Programação Continuada para a Música Popular 2015, da Fundação Nacional das Artes (Funarte).

A iniciativa é coordenada pelas produtoras Carla Cabral e Suanny Lopes. A reforma já está em andamento e a mudança estrutural está a cargo do arquiteto Raul Ventura Neto e o engenheiro Gabriel Ventura, ao lado da equipe de obras, que projetaram novas maneiras de uso do espaço, melhor localizando o bar e a cozinha, além do local para a disposição das mesas e cadeiras, e claro, o salão para que as pessoas possam dançar à vontade. A novidade será um espaço para loja, a fim de comercializar produtos como CD’s e camisas. Esta é a primeira vez que o local recebe investimentos para melhorar sua infraestrutura, em 28 anos de existência.

Gilson Rodrigues recorda que todas as obras na casa foram feitas de forma improvisada e comemora a realização do projeto.

“No início era só uma palhoça e a gente foi reformando aos poucos. Todas as vezes que a gente fazia uma reforma era do nosso próprio bolso, quando sobrava algum dinheirinho. Além disso, era a gente mesmo que pensava na obra. Acho que essa reforma é o reconhecimento da nossa resistência e da importância dessa casa para o Choro para os músicos também. Sempre tivemos ideia de fazer essa reforma, mas como não funcionamos sob a lógica comercial, acabou demorando”, afirma o proprietário da casa.

A reestruturação do espaço também proporcionará a realização de novos eventos, sejam da própria casa ou de parceiros, com a melhoria do espaço para apresentações musicais. Como Gilson também é artista plástico, a reforma prevê um diálogo com outras linguagens, sendo possível a realização de exposições e outras atividades. O arquiteto Raul Ventura explica que o projeto arquitetônico buscou intervir o menos possível no espaço, de modo a não descaracterizá-lo como Casa do Gilson. 

“Optou-se no projeto manter as intervenções que representavam a evolução daquele espaço enquanto bar e casa, construído com muito esforço e as vezes pelas próprias mãos do Gilson e de sua família. Em termos arquitetônicos isso levou a uma readequação dos fluxos internos do espaço, de modo a setorizar corretamente os espaços privativos de uso da família (casa) e dos espaços de uso do público (bar). Isso motivou mudanças na área dos banheiros e do caixa do bar, bem como na área da cozinha e na parte de copa e depósitos. De resto, foram previstas a construção de um banheiro adaptado às necessidades de pessoas com deficiência, além de um espaço reservado para uma pequena loja que pode servir para a venda de cds, livros, camisetas etc”, revela o arquiteto. 

A produtora Carla Cabral lembra que a Casa do Gilson é o palco para músicos da antiga e da nova geração de Belém e a manutenção nas atividades é a garantia de que outros músicos possam apreciar o Choro e trocar experiências. “É uma casa de muitos artistas. O projeto foi criado para que o local continue tendo força cultural, pois une músicos do mundo inteiro. Revitalizar o espaço é fazer com que ele continue existindo. É uma segurança que a gente tem que próximas gerações tenham onde tocar e também o Gilson possa perceber que o esforço dele nesses quase 30 anos seja reconhecido por nós e por uma fundação nacional”, diz. 

Sobre a Casa do Gilson 

A Casa do Gilson, também conhecida como Bar do Gilson funciona todos os finais de semana no quintal da residência de Gilson Rodrigues, músico e artista plástico, que abriu a sua casa oficialmente em 1987, após os encontros com os chorões da cidade ficar sem sede fixa. 

Da primeira barraca de palhoça que reunia apenas amigos aos domingos até se tornar um bar, já se foram 28 anos de história que abriga e contribui para a preservação e apresentação do patrimônio musical brasileiro, o Choro. A manutenção do espaço durante todos esses anos é realizada pelo próprio Gilson e sua família. 

Para comemorar 20 anos da casa, em 2008 foi lançado um CD comemorativo com 33 faixas. O documentário “Casa do Gilson, Nossa Casa”, de Chico Carneiro, lançado em 2003, mostra a realização das atividades no espaço e o clima de amizade entre os músicos. Atualmente, a Casa do Gilson mantém uma programação voltada as rodas de choro, samba e música brasileira. De sexta a domingo grupos como Gente do Choro e Galo Garnizé realizam apresentações na casa. 

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