15.9.20

Amazônia Doc abre com debate e rede de apoios

A abertura do 6º Amazônia Doc, no último sábado, 12, foi realizada na Casa Namata, em Belém, com poucos convidados, equipe do festival e apoiadores, que entraram numa live, numa espécie de cerimônia atípica, porém calorosa. Em seguida, a programação teve inicio com um web-encontro que renuiu realizadores de diversos países da América Latina. 

Durante a abertura, o público pôde saber quais são as mãos envolvidas nesta edição do Amazônia Doc, conhecer a estrutura do festival e suas ações neste ano, em que ele chegue num formato 3 em 1, com três mostras competitivas e uma super novidade, uma plataforma de streaming para escoar e mapear a produção audiovisual da Pan Amazônia. Quem não assistiu, ainda pode ver o bate-papo, que está disponível no Youtube do Amazônia Doc no Youtube, e a gente também adianta aqui um pouco do que rolou.

Para a Equatorial Energia, patrocinadora master do festival por meio da Lei Semear, a oportunidade de fomentar o cinema é uma honra para o grupo.

“É nosso papel trabalhar no fortalecimento da cultura amazônica e estamos felizes em contribuir com um festival que fala de toda a Pan-Amazônia”, disse João de Deus, Diretor de Marketing da empresa, que também apoia outros eventos culturais no Pará, como a iniciativa Pará Live e o Festival de Carimbó de Marapanim.

Presente na abertura também, Márcio Tuma, que este ano é co realizador do 6º Amazônia Doc, por meio do Instituto Márcio Tuma, destaca que o cinema, além de complementar processos educativos, também aquece a economia local, pois gera espaços de trabalhos a diversos profissionais.

“Quando apoiamos o cinema, apoiamos educação. E dentro do processo histórico em que estamos, é muito importante despertar a atenção das pessoas para estas questões. Entendo que tudo isso é Amazônia Doc, cinema, arte cultura, educação, além de emprego e renda. E somos nós também, apoiando essa realização”, diz o advogado.

Iniciativa movida a paixão e desafios

Manoel Leite, do Instituto Culta da Amazônia, que assina a realização do festival, reforçou o poder de transformação do Amazônia Doc. “No momento que estoura a pandemia, não apenas fazemos o evento online como também criamos a plataforma AmazôniaFlix, que coloca a produção amazônica no circuito mundial de streamings. Estamos em experimentação, mas a ideia é consolidar essa ferramenta”. 

É por meio da AmazôniaFlix que o público pode acessar as mostras do Amazônia Doc e também um acervo de filmes paraenses que está em construção. Basta se inscrever para ganhar 90 dias de acesso gratuito. Anote: www.amazoniaflix.com.br

Zienhe Castro, cineasta e diretora-geral do Amazônia Doc, incitou uma importante reflexão. “Este momento é um desafio para o mundo, imagina para nós que trabalhamos com cinema dentro do contexto amazônico. Acredito que seja um chamado para repensar tudo, então convido para um olhar mais aprofundado sobre a Amazônia como um celeiro de vida, e o cinema dentro disso se recriando e contando nossa história”.

A produção do festival é da Z filmes, mas conta com extenso time de apoiadores, como o curso de cinema da UFPA, o SEBRAE e a distribuidora Estrela do Norte e a Elo Company, cujo apoio irá premiar um dos filmes vencedores do 1º Festival As Amazonas do Cinema, agregado este ano à programação do Amazônia Doc, com o Selo Elas de distribuição. 

Na abertura, também marcou presença a jornalista Vanessa Vasconcelos, Diretora da Cultura Rede de Comunicação, que anunciou: a partir da próxima semana a TV Cultura do Pará exibirá, entre os intervalos do programa Sem Censura, os 11 filmes dos estudantes que participam da mostra “Primeiro Olhar”, do 1º Curta Escolas, fechando assim o novo formato 3 em 1 do Amazônia Doc. Também prestigiou a abertura, João Pedro Galvão, Assessor da Deputada Estadual Marinor Brito, também apoiadora do festival. 

Amazônia Doc: história e perspectivas

Desde a primeira edição do Amazônia Doc já se passaram mais de dez anos. De lá para cá, os números expressam a relevância do Festival. Foram mais de 300 filmes exibidos, oriundos dos diversos países que integram a Amazônia Legal. Nas atividades de capacitação, o evento facilitou mais de 20 oficinas, que alcançaram mais de 5 mil jovens e adultos. 80 profissionais do cinema, de toda a América Latina, estiveram presentes, entre oficinas, masterclass e debates. Mais de 50 mil pessoas tiveram acesso à todo esse cardápio de fomento à produção cinematográfica pan-amazônica. 

Em clima de relembrar e comemorar todo esse percurso, para a abertura do festival, articulou-se esse web-encontro especial entre alguns dos realizadores do audiovisual latino-americano que estavam presentes na primeira edição do Amazônia Doc. Sob a condução dos cineastas Zienhe Castro e Victor Lopes, curadores da primeira mostra competitiva do evento, o grupo debateu a partir da proposta “A Floresta do Cinema e o cinema da Floresta no Século XX e XXI". 

Em foco, no bate-papo, uma rica análise de diretores e pesquisadores do cinema e da Amazônia. Afinal, quais são as dificuldades enfrentadas por quem produz audiovisual na Amazônia? E qual é o papel do cinema diante de toda invisibilidade sofrida por povos originários e também na luta pela preservação destas identidades e por uma floresta de pé e harmônica? Estas perguntas nortearam o encontro.

Para o documentarista manauara Aurélio Michiles, “as civilizações amazônicas apontam para desejos que o Ocidente não compreende”, daí a dificuldade de um olhar mais genuíno sobre este lugar de múltiplas facetas. Neste mesmo sentido, o cineasta paraense Januário Guedes chama a atenção para a importância de um cinema que fale de dentro da Amazônia para fora. “O cinema é como a floresta. Para mostrar toda sua exuberância precisa fincar as raízes no solo mais profundo. Estamos em trânsito de um cinema do exótico para um cinema identitário”, conta o diretor que nasceu no município de Cametá.

O pesquisador Gustavo Soranz, integrante do Grupo de Antropologia Visual, de Manaus, entre outras coisas, discorreu sobre as dificuldades práticas no trabalho de fomento ao cinema dentro da Amazônia. “A descontinuidade política reverbera na dificuldade de manter grupos sólidos de pesquisa e produção, daí a importância dos diálogos criados como no Amazônia Doc”, disse o estudioso, que é um dos realizadores da Mostra Amazônica de Cine Etnográfico, que aconteceu até 2006, no Estado do Amazonas.

A noção de uma Amazônia ainda vítima de um saqueamento sistemático, em processos constantes de colonização, permeia de modo geral as percepções dos pesquisadores do cinema local. Para Luiz Arnaldo Campos, diretor, “o mundo nos vê como produtores da borracha, da castanha, mas quando falamos de um cinema amazônico parece que este não é nosso lugar. E eu pergunto, por que? O que temos aqui na região é basicamente uma reserva intocada de histórias dada a dimensão deste lugar e suas tantas realidades”.

O olhar que se volta à Amazônia

Participaram também do debate a diretora Venezuela Rosana Matecki e os cineastas Silvio Tendler e Eduardo Morettin, todos integraram a primeira edição do Amazônia Doc. Dado o cenário delicado que se institui historicamente na Amazônia, a convidada especial Edna Castro, professora de sociologia da UFPA, convida também a pensarmos a fundo sobre qual prisma queremos olhar e falar da Amazônia. 

“O documentário é uma ferramenta para mostrar uma Amazônia real, de muitas narrativas e  imaginário  fértil. Mas sinto que é preciso um compromisso com a desobediência para ‘desinventar’ o que se entende de maneira geral como Amazônia. Que floresta é essa que queremos mostrar? A que está agonizando ou a que está lutando por sua defesa?”, provoca a docente.

O encontro foi um esquenta perfeito, um convite para explorar todo o arsenal de perspectivas e lugares de fala que os filmes das mostras do festival trazem ao público. O debate durou quase três horas e quem perdeu o ao vivo, é só clicar lá no canal de Youtube do Amazônia Doc, a live está salva, assim como a que foi ao ar a pouco, abrindo o 1º Festival As Amazonas do Cinema, reunindo grandes cineastas do cinema brasileiro, que discutiram sobre as mulheres no audiovisual brasileiro.

As mostras competitivas, que seguem on line até dia 20 de setembro, reúnem 54 filmes. Além do júri oficial, o público também vota nos melhores curtas, médias e longas metragens. A cineasta paraense Priscilla Brasil, está concorrendo com “Duas Company Towns”, documentário longa metragem que traz as memórias de dois lugares esquecidos, impactados por projetos desenvolvimentistas na Amazônia brasileira.

O Amazônia Doc vai até dia 23 de setembro, quando encerra com mais uma cerimônia, desta vez a de premiação virtual e mais uma live com os vencedores. Agende-se.  A realização é do Instituto Culta da Amazônia, com a Correalização do Instituto Márcio Tuma; patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural do Pará - Governo do Pará. A produção é da ZFilmes; com apoio cultural do SEBRAE, Rede Cultura de Comunicação; Casa Namata; Ufpa - Curso de Cinema e Estrela do Norte - Elo Company.

Serviço
Para conferir a live de abertura acesse o Canal de Yotube do Amazônia Doc. A programação da 6ª edição vai até o dia 23 de setembro, com mostras competitivas: www.amazoniaflix.com.br e web encontros, oficina e masterclasses transmitidas pelo Canal de Youtube, com retransmissão pela página de Facebook da Equatorial Energia. Mais informações pelo site www.amazoniadoc.com.br.

Holofote Virtual, com reportagem: Luiza Soares + fotos, prints e edição: Luciana Medeiros

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