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Encantarias de São Benedito Foto: Divulgação |
A região é uma explosão cultural, onde patrimônio material e imaterial, ambiental e cultura popular convergem de forma envolvente, apaixonante e que estará refletida na Mostra Aldir Blanc dos Caetés, a ser realizada neste sábado, 25 de setembro, trazendo o resultado de onze projetos premiados nos editais de artes visuais, teatro, festival integrado, artes integradas e
Museus e Memórias de Base Comunitária. A programação começa às 16h, no Centro Cultural da Vila Que Era, núcleo inicial da cidade de Bragança, conhecida como Pérola do Caeté.
A iniciativa partiu de diversos espaços culturais e de uma rede de artistas bragantinos ou moradores da cidade e região que se uniram para trazer a essa programação, um panorama muito especial sobre a produção artística e patrimonial da região dos Caetés, realizada entre 2020 e 2021, dentro de um processo emergencial da cultura brasileira em meio à pandemia. Essa proposta traz como fundamento a vivência e a experiência de imergir numa cultura tradicional em diálogo com a contemporaneidade, chamando atenção da urgência em se criar ou fortalecer políticas públicas continuadas já existentes, para atender essas demandas.
O público vai conferir, por exemplo, o Encantarias de São Benedito: performances visuais do Santo Preto em comunidades de terreiro - Bragança-PA, de Mayka Melo, do qual já falei aqui no blog. Apoiado pelo edital de Artes Visuais, o projeto atuou em dois terreiros bragantinos, o Terreiro do Pai Raimundo na Vila Cuera e no Terreiro do Pai Kauê, em Bragança. O projeto articulou a sabedoria tradicional da região bragantina com o fazer artístico visual contemporâneo através de recursos fotográficos e audiovisuais, produzindo fotos performances e vídeo performances que detalham artisticamente a relação entre o Santo da Igreja Católica e as encantarias das tradições indígenas e africanas nas Amazônias. Também há um vídeo documentário sobre o processo.
Já o vídeo documentário do projeto “O Poder de Transformação da Arte”, contemplado pelo edital de Artes Visuais, pela COOMARCA (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis dos Caetés), sob a coordenação de Ana Raquel Leite, mostra o processo do projeto que fez da fotografia e do bordado, ferramentas para a produção do autoconhecimento e auto estima, através da reflexão sobre o corpo e os estigmas sociais, considerando a vivência das catadoras de materiais recicláveis no município de Bragança. O projeto surge através do Trabalho de Conclusão de Curso da Terapeuta Ocupacional, de Carla Leite e do trabalho que ela desenvolve como fotógrafa, desde de 2012, com as Catadoras de Materiais Recicláveis de Bragança.
Roteiro cênico LGBTQIA+ e festival quilombola
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Instalação Cabokètika Foto: Pierre Azevedo |
O projeto Ynstalação Cabokètyka – Corredora, de Pedro Olaia, desenvolvido a partir de uma vivência na Casa da Mata (Ecomuseu) com o coletivo Cabokètykas, que produziu um roteiro cênico para ser mostrado de forma presencial, mas que devido à pandemia foi adaptado para vídeo, na real, uma videoperformance artística e, ao mesmo tempo didática, sob a temática LGBTQIA+ na Amazônia.
No vídeo, que também estreia no Canal de Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=YoQRmbXu7ZU), são apresentadas pulsações, incômodos, gritos, gargalhadas e feitiçarias de corpas dissidentes próximas da ancestralidade acabocada vinda de pretas e indígenas que viveram antes de nós e que se relacionam com questões de gênero e sexualidade fora do padrão cristalizado do binarismo cisheteronormativo.
Outra iniciativa, “O Corpo Preto na Tradição Capoeira Angola” foi projeto proposto por Bárbara Haffyella ao edital de Artes Visuais reúne fotos performances criadas coletivamente com o Grupo de Capoeira do instrutor Cajuí de Bragança-PA, a partir de formações em oficinas e diálogos sobre identidade cultural e a origem da capoeira.
Enquanto isso, o Festival Quilombola, apoiado pelo edital de Artes Integradas, foi realizado no Quilombo do América, pela ARQUIA (Associação Remanescente da Comunidade Quilombola do América, constituída em sua maioria por mulheres que trabalham com serviços domésticos, na roça e em produções artesanais. A iniciativa promoveu a capacitação dessas mulheres para a produção de bonecas de pano, tapetes, conjunto de colchas de cama, sabão artesanal e tranças afro, além de fazer eventos na comunidade como o desfile e ensaio fotográfico com as mulheres da ARQUIA e rodas de conversa sobre a valorização e empoderamento da mulher quilombola. No sábado, serão exibidos vídeos registros das oficinas e ensaio fotográfico; exposição e venda das produções artesanais das mulheres quilombolas e roda de conversa sobre processos de construção identitária local.
Mata, quintais, tradições e turismo patrimonial
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Colagem Instagram @espaco_cultural_casa_da_mata |
Outro trabalho incrível, que venho acompanhando pelo Instagram é o do Ecomuseu do Espaço Cultural Casa da Mata, aprovado no edital Museus e Memórias de Base Comunitária, sob a coordenação de Kelle Cunha. A ideia foi criar um museu ecológico no espaço cultural “Casa da Mata”, localizado na comunidade do Camutá, município de Bragança-PA. O resultado também é um videodocumentário sobre o processo de construção do Ecomuseu e Bate-papo com a comunidade.
Na área cênica, o projeto Histórias de Quintal, aprovado no edital de Teatro, resultou num espetáculo de rua infantil, um monólogo, escrito e protagonizado pelo ator paraense Paulo César Jr. que narra de maneira lúdica as brincadeiras, histórias e aventuras do personagem Juninho, um menino de 8 anos, que vê o seu quintal como um lugar onde tudo é possível dentro das pluralidades das infâncias na Amazônia contemporânea. Nas suas aventuras pelo mundo 'quintalesco', ele ajuda a Curupira, vira amigo do Príncipe da Lua, explora as profundezas de um igarapé, participa de um baile de carnaval, sobe em árvores e empina pipa.
Outra iniciativa, selecionada pelo edital de artes visuais - Lei Aldir Blanc Pará 2020, é a exposição fotográfica “Do mar às telas”, que retrata a beleza de elementos do cotidiano dos moradores da comunidade da Vila dos Pescadores de Bragança, pelo olhar poético e pelas lentes da fotógrafa Thais Martins. Por meio de fotografias, ela revela costumes e saberes das populações e o encanto do local, em seu dia a dia.
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Ep "Benzedeira - Maria do Barro", da websérie Saber Bragança, dir. San Marcelo - Prêmio Preamar |
Já o projeto “Recanto das Nossas Ancestralidades”, de Maria Eloide, aprovado no edital de Museus e Memórias de Base Comunitária, desenvolvido na Vila Que Era, trouxe ações de reconhecimento e valorização do espaço cultural onde são desenvolvidas as atividades de produção do artesanato e cursos e capacitações para os moradores.
Além da reforma do espaço comunitário, a realização de oficinas de design de cestaria, formação de base comunitária, autogestão e educação patrimonial, o projeto também resultou em um vídeo documentário, em que se mostra o processo de construção e manutenção do espaço cultural e as histórias das artesãs da comunidade. Neste sábado, haverá exposição e venda das produções artesanais, além de roda de conversa sobre processos de construção identitária local.
O projeto “Todos a bordo: turismo e educação patrimonial nos estaleiros artesanais de Bragança e Augusto Correa”, também foi selecionado pela Aldir Blanc, no edital Museus e Memórias de Base Comunitária. O objetivo foi realizar um inventário participativo dos estaleiros artesanais dos dois municípios para construção de roteiros para visitas guiadas de estudantes. Utilizando câmera fotográfica e gravador de voz portátil foram realizadas visitas a 4 estaleiros dos municípios envolvidos, trazendo falas dos artesãos sobre a memória desses espaços.
Por fim, não é Aldir Blanc, mas foi desenvolvida no mesmo período, com apoio do Prêmio Preamar, estou falando da Websérie Saber Bragança, com direção de San Marcelo, realizador que também aprovou um curta metragem no edital de audiovisual, com data de estreia em outubro, mas que neste sábado nos mostra quatro episódios da série documental que contam a história e oralidade de tradições culturais e seus respectivos mestres mantenedores da tradição. Um dos episódios é Benzedeira - maria do Barro: https://www.youtube.com/watch?v=hSf5xT4Ffko
MOSTRA ALDIR BLANC DOS CAETÉS
Sábado - 25 de setembro de 2021
Local: Centro Cultural Vila Que É, Bragança-PA
PROGRAMAÇÃO
16:00h - 17:00h - Oficina de Teatro com Paulo César Júnior
17:00h - 17:30h Lanche Comunitário
17:30h - 18:30h - Apresentação do Espetáculo Teatral Histórias de Quintal
18:30h - 19:00h Exposições de fotografias e Roda de Capoeira
19:00h - 21:00h Exposição audiovisual
21:00h - As Beneditas Batuque
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