9.9.21

Mário Lúcio: show-conferência e livro em Belém

Mário Lúcio Sousa
Foto: Jorge Simão

O músico, poeta e escritor cabo-verdiano, Mário Lúcio Sousa, abre hoje (9), no Margarida Schivasappa, o evento municipal Jornadas de Gratidão ao Povo Negro, e lança, pela Universidade Federal do Pará, no sábado, (11), o  livro “Meu Verbo Cultura: escritos amorosos sobre cultura e desenvolvimento”, no Teatro Gasômetro. Lançado originalmente em 2016, pela Editora da Universidade Federal da Bahia, a obra ganha agora uma reedição pela Editora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA/UFPA), por meio do Projeto de Extensão “Intercâmbio turístico-cultural Belém-Cabo Verde: a cultura como ato de resistência em Mário Lúcio”. 

Ele é referência na música e cultura contemporâneas. Ex-ministro da Cultura de Cabo Verde, o cantor-compositor é também o escritor mais premiado do país, internacionalmente e o poeta que marcou a viragem na nova poesia cabo-verdiana com o livro Nascimento de Um Mundo, um dos conceituados pensadores  da sua geração. É também autor do Manifesto a Crioulização, a obra mais atual sobre o fenómeno  da Crioulização no mundo. 

O livro “Meu Verbo Cultura”, nesta nova edição, traz apresentação de Gilberto Gil que chama atenção para o pensamento contemporâneo e futurista de Mário Lúcio traduzido por uma série de artigos, entrevistas e discussões que o revelam suas articulações na área das artes e gestão artística, através do seu trabalho na frente do Ministério da Cultura de Cabo Verde, entre 2011 e 2016. Mário Lúcio destacou-se em todo continente africano pelas suas parcerias e modelo de trabalho para a criação e desenvolvimento de políticas culturais para a melhoria do seu país. 

Ele está em Belém pela segunda vez e, desde segunda-feira (6), vem cumprindo uma agenda que já envolveu encontros com o reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Tourinho, e com o prefeito Edmilson Rodrigues, autor da emenda parlamentar que possibilitou o projeto de extensão do ICSA,  quando ele ainda estava Deputado Federal, em 2018. 

Em 2019, Mário Lúcio esteve por aqui e tive o privilégio de lhe conhecer na ocasião do lançamento do álbum "sem chumbo nos pés", de Naldinho Freire, músico compositor paraibano que na época morava em Belém e que trouxe para nós a conexão não só com Mário Lúcio, mas também com o guitarrista e também político da cultura, Manuel di Candinho, que retornou à capital paraense, em 2020, trazendo mais dois artistas cabo-verdianos, a cantora Mindela Soares e o violonista Paulin Vieira, num momento em que a pandemia permitiu um belíssimo show flutuante pela baía do Guajará. Tenho tudo registrado aqui neste blog. 

Desta vez, Mário Lúcio é o foco artístico central do projeto. Além do lançamento do livro, previsto  para o sábado (11), ele também participará da abertura da programação Jornadas de Gratidão aos Povos Negros, evento da prefeitura de Belém, que será realizado nesta quinta (9), no Teatro Margarida Schivasappa, alusiva ao Dia Internacional do Afrodescendente, comemorado, pela primeira vez, em 31 de agosto, data criada pelas Nações Unidas, para agradecer e dar visibilidade à diáspora africana, a  imigração forçada de africanos. 

Mário Lúcio apresentará um show conferência e haverá ainda um desfile de diversos modelos confeccionados pela Hounsou, marca de Israël Sèwanou Hounsou, empreendedor da moda africana e afro-brasileira. No repertório, ele vai apresentar repertório autoral, mas estará aberto também ao momento, o que fluir, será! O mesmo se dará no dia 11, no Gasômetro.

Intercâmbio gestado desde 2018

2019 | lançamento do álbum "sem chumbo nos pés",
com artistas paraenses.
O intercâmbio entre Belém e Cabo Verde vem sendo fortalecido e a publicação do livro, além de dar visibilidade a essas ações, abre ainda um campo de possibilidades para o acesso de estudantes acadêmicos a um conteúdo precisos acerca do turismo e o processo de internacionalização, em curso na UFPA. 

Como se pode ler no livro que chega ao Pará, a imagem de um entrelace de culturas, é uma manifestação do que ocorre "quando abrimos o olho do coração" e nos expandimos para além da separação entre os limites dos nossos territórios e os dos outros. A cultura e o turismo enquanto possibilidades de expressão cognitiva e de reconhecimento das manifestações mais diversas de pertencimento, respectivamente, proporcionam a flexibilidade da imagem do entrelace. 

E o livro “Meu Verbo Cultura” trata desse manifesto, desse reconhecimento e do amor ao encontro do outro e do que nos parece, ao primeiro olhar, estranho. Manifestar-se ao outro, portanto, é o que conduz a leitura desta obra instigante e desafiadora que deve ser lida tirando-se as vendas dos olhos e as amarras da vergonha do coração. 

Política, cultura e pensamento

Graduado em Direito pela Universidade de Havana, foi deputado no Parlamento cabo verdiano, de 1996 a 2001; Conselheiro do Ministro da Cultura (1992) e Conselheiro Cultural do Comissário da Expo / 92. É autor do projeto musical de Cabo Verde para a  Expo 92 (Sevilha) e 98 (Lisboa), além de embaixador Cultural de Cabo Verde. 

Na área da música, tem nove discos gravados além de uma compilação de 80 canções suas mais escutadas, colaborações com Cesaria Evora, (Cabo Verde), Manu Dibango (Camarões) Touré Kunda (Senegal), Paulinho Da Viola, Gilberto Gil, Milton Nascimento (Brasil), Pablo Milanes (Cuba), Mario Canonge e Ralph  Tamar (Martinica) Teresa Salgueiro, Luis Represas, (Portugal) Toumani Diabate (Mali), Harry Belafonte (EUA), Oliver Mtukudzi (Zimbabué), para além de trilhas sonoras para  filmes, documentários, teatro e dança. 

Já na literatura, entre suas obras constam: Nascimento de Um Mundo (poesia, 1990); Sob os Signos da  Luz (poesia, 1992); Para Nunca Mais Falarmos de Amor (poesia, 1999); Os Trinta Dias do  Homem mais Pobre do Mundo (Prémio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa);  Vidas Paralelas (2002); O Novíssimo Testamento (Prémio Carlos de Oliveira, Portugal),  Biografia do Língua (Prémio Miguel Torga- Cidade de Coimbra 2015; Prémio PEN Clube  de Literatura para melhor romance em língua portuguesa de 2016), O Diabo Foi Meu  Padeiro (2019). 

Como dramaturgo é autor das peças: Adão e As Sete Pretas de  Fuligem (2001). Sozinha No Palco (2004). Vinte e Quatro Horas na Vida de um Morto (2006), Um Homem, Uma mulher e um Frigorífico (2007), Adão e Eva (2012), Os Dias de  Birgit (2018).

Serviço

Abertura do evento Jornadas de Gratidão, nesta quinta-feira, 9, às 19h, no Teatro Margarida Schivasappa. E lançamento do livro “Meu Verbo Cultura: escritos amorosos sobre cultura e desenvolvimento”, neste sábado, 11, às 19h, no Teatro Estação Gasômetro – Parque da Residência. De acordo com as novas medidas do Departamento de Vigilância à Saúde, da Sesma, a capacidade dos teatros será limitada a 20% de ocupação e as pessoas deverão apresentar a carteirinha de vacinação o público está limitado em 100 pessoas.

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