A artista e pesquisadora Cláudia Leão apresenta na próxima quarta-feira (26), a partir das 19h, no Museu Casa das Onze Janelas, em Belém, a exposição do projeto “Atlas, paisagens e pele: fluxos de viagens na Amazônia insular”, contemplado pelo XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, do Ministério da Cultura. A entrada é gratuita.
Após viajar pelos rios Amazonas e Xingu, na busca de encontros com pessoas e paisagens, a mostra compila fotografias, vídeos e instalações referente à esse navegar por águas e experiências – estéticas e pessoais.
A artista associou a produção fotográfica às experiências das viagens de barco e à estadia em localidades às margens dos rios, onde conviveu e interagiu também com grupos ribeirinhos.Desenhos e textos dos companheiros de viagem também serão expostos e participam da mostra os artistas Paulo Meira e Luana Peixoto e a pesquisadora Dimitria Leão.
Num duplo sentido de mostrar sua produção artística, uma parte do material confeccionado nas viagens e com pessoas como dona Zila, que a abrigou ás margens do rio Xingu, será devolvido aos tantos participantes desse percurso pelos caminhos líquidos. A primeira viagem ocorreu em janeiro, para o município de Breves, na ilha do Marajó, para uma prospecção inicial no Rio Amazonas. O percurso, inicialmente previsto para seguir até Almeirim, no oeste do Pará, por meio de um regatão, foi alterado e desceu no mapa: a artista foi então até Altamira e Vitória do Xingu, para o Rio Xingu, no sudoeste paraense.
A proposta do projeto, que de acordo com Cláudia Leão tem um direcionamento artístico e outro antropológico, é criar a partir do fluxo de viagens de barco, pensar a paisagem do rio como ambiente de imersão artística. “Uma das coisas que acontecem no meu trabalho é ser como ele é. Tem uma coisa fantástica, aquilo que eu vejo. Tem uma instalação com os barcos, e é a minha visão noturna, de como parecem ficar soltos no ar. Na exposição está o que eu vejo e as coisas que vivi com essas pessoas. O que me interessa é como essa experiência repercute para nós, essa invisibilidade, não olhamos para dentro não sabemos da nossa proporia história”, explica.
A professora e crítica de arte Marisa Mokarzel destaca a ambivalência do projeto. “Em seu projeto, Cláudia Leão procura compreender e sentir o que há muito tempo se tem esquecido: essa interação homem-natureza, por isso volta-se para o seu lugar e envolve-se com ele na perspectiva de ir e seguir sempre. A intenção de integrar-se e de imergir-se na paisagem que contém a si mesma e os outros, faz com que o individual e o coletivo se imbriquem conduzindo a uma compreensão mais ampla do mundo”, escreve Marisa Mokarzel.
Atravessamento - As experiências a partir de longas viagens, que começaram em 2013 rumo a Breves e Chaves, no Marajó, são para a artista como forma de atravessamento, de deslocamento em fluxos continuados. “Passei alguns anos morando fora e, sempre que voltava a Belém, surgia a vontade de seguir para o interior, mesmo que fosse em viagens curtas, rumo a lugares próximos, na época. Foi quando percebi que o horizonte que eu queria não era em São Paulo mas também não estava mais em Belém”, comenta Cláudia.
Cláudia observa que o desejo de seguir para o interior do Pará, por meio fluvial, se deu pelo fato de muitos desses lugares, igarapés e trechos de rios, não se encontrarem registrados nem nos mapas oficiais. E isso trouxe uma nova percepção para a sua vida e para as suas proposições artísticas.
“Quando eu passei a primeira noite numa casa mata adentro, que, pela falta de energia elétrica só pode ser vista de dia, eu percebi a força daquilo tudo, escutando todos os barulhos do mundo, da minha infância inclusive. De repente, eu estava lá à noite naquele lugar que, de fora, só é visto de dia. E comecei a ver também de outro ponto de vista, porque não era mais eu que via a casinha lá de longe, do barco, era eu que via o barco passar”, explica.
Durante essas travessias, pele, corpo e ambiente também se entrecruzam (ou “incorporam-se”, como propõe a artista) e a paisagem deixa de ser onírica, mero objeto de contemplação, para ser percebida – sentida – como extensão do corpo.
“Há uma necessidade fundamental de expansão dos conceitos paisagem para além da contemplação, pois as paisagens que interessam a este trabalho são constituídas do entrecruzamento entre corpo e ambiente, que se retroalimentam em processos de incorporação. Do corpo-pele (a capa de todas as nossas superfícies) como paisagem, do corpo como ambiente em que tudo se mistura. A essa série de acontecimentos, o antropólogo japonês Tetsuro Watsuji, chamou de ‘vivência intencional’, pois para ele a paisagem nada mais é, ou fundamentalmente é, o prolongamento do nosso corpo”, justifica a artista.
Sobre a artista - Cláudia Leão é paraense e atua em Belém como pesquisadora, fotógrafa e artista visual.
Mestre e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é professora do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, onde também coordena o grupo de pesquisa Lab AMPE e projeto de pesquisa “Sobre a Pele o Rio: a paisagem no território da cultura atravessando o campo da arte”, que inclui ações como os “Registros Permeáveis: Falas de Artistas, para caderno e escrituras”, encontros a partir dos quais artistas são convidados a narrar experiências que envolvam relações de afeto e interação com diferentes grupos e lugares.
Foi selecionada em 2014, na categoria de livre criação fotográfica, pelo XIV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia com o trabalho “Atlas, paisagens e pele: fluxos de viagens na Amazônia Insular”, um ano depois de ser contemplada pela Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística do então Instituto de Artes do Pará com o projeto “A nau e a Paisagem: diários de bordo entre Belém e Chaves.
Concentra seus trabalhos artísticos e de pesquisa acadêmica em temas como vínculos afetivos, ontogênese da imagem, esquecimento, saudade e a paisagem como ambiente de entrelaçamento.
Serviço
Abertura da exposição “Atlas, paisagens e pele: fluxos de viagens na Amazônia insular” ocorre no próximo dia 26 de agosto, a partir das 19h, no Museu Casa das Onze Janelas (R. Siqueira Mendes, s/n - Cidade Velha, Belém – PA). Visitação: de 27 de agosto a 27 de setembro de 2015, de terça a sexta-feira, das 10h às 18h; sábado, domingos e feriados, das 10h às 14h. Entrada gratuita.
(Texto enviado pela assessoria de imprensa)
Um comentário:
"Espero que as flores não tenham perdido a sua essência completamente" Me emocionei ao escutar as cartas lidas no livro junto a caixa com as florzinhas. Parabéns a todos que participaram do projeto. Nostálgico.
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