5.8.15

Mostra traz fotos realizadas por Mário de Andrade

“Mário de Andrade: etnógrafo-fotógrafo-poeta”, com curadoria da pesquisadora Adrienne Firmo, foi organizada a partir do acervo do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Traz a público um recorte de 60 fotografias em preto-e-branco realizadas pelo intelectual paulistano Mário de Andrade (1893-1945) em 1927, durante viagem ao Estado do Pará e ao Peru, e um vídeo com fragmentos de correspondências com intelectuais brasileiros. A exposição abre amanhã (6) no Museu de Arte de Belém.

A cultura e a gente nacionais foram os interesses maiores do escritor paulistano Mário de Andrade, que, em 1927, no intuito de desbravar o Brasil,realizou uma viagem etnográfica pelo Norte do país, descrita por ele como “Viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia, e pelo Marajó até dizer  chega”. Durante o trajeto, fez registros fotográficos e escritos sobre a paisagem, o homem e a cultura da região.

O conjunto das fotografias reunidas na mostra “Mário de Andrade: etnógrafo-fotógrafo-poeta” representa o homem, a paisagem, arquitetura e culturadas regiões visitadas.  Nele, contudo, é possível fazer um recorte daquelas voltadas para o universo do trabalho e do trabalhador distantes dos grandes centros urbanos do período, a saber, São Paulo e Rio de Janeiro, servindo como instrumento de conhecimento para os modos de vida e trabalho de então nos interiores do país.

Nessas fotos estão registrados os labores no campo com a cana, o café e o gado; os de populações ribeirinhas no transporte de madeira e alimentos; os mercados dos grupos urbanos; as trocas entre citadinos e indígenas; além de referências aos trabalhos femininos como a lavagem de roupas.

“As fotografias demonstram também o empenho do escritor em transmitir por meio de elementos plásticos aquilo que é retratado, fundindo a informação ao valor artístico, além de registrar cada imagem com títulos e legendas que as explicam ou esclarecem, aliando, dessa forma, a ação do turista-etnógrafo à do fotógrafo-poeta”, escreve a curadora Adrienne.

A exposição, que conta com o patrocínio dos Correios, pretende apresentar dois aspectos da formação cultural brasileira: o trabalho e o registro de suas práticas, ambos representados a um só tempo na visão do trabalho nos interiores do Brasil no inicio do século XX, formulada pela pesquisa etnográfica e artística de Mario de Andrade, fundamental para a formação dos estudos acerca da cultura e do povo brasileiros.

Fotografias e coleções do intelectual

Além deste experimento fotográfico como meio de apreensão do povo e sua cultura, o escritor-fotógrafo Mario de Andrade, em 1928, dedicou-se a nova viagem de reconhecimento do país, sobre a qual enviou cotidianamente crônicas ao Diário Nacional, publicadas na coluna intitulada “O turista aprendiz”. 

Também guardou em seus arquivos retratos de outras viagens como aquela até Minas Gerais, sendo a primeira em 1919, e a outra em 1924, chamada por ele  de “Viagem de descoberta do Brasil”. Fotografou, ainda, as férias no interior de São Paulo, entre os anos 1920 e 1930, colecionou cartões-postais de diversas regiões e povos do Brasil, formando, assim, uma coleção de representações de parte importante das práticas e do viver da nação nos inícios do século XX.

Poeta, romancista, etnógrafo, fotógrafo, crítico de arte e musicólogo, Mário Raul de Moraes Andrade (São Paulo, 1893 – São Paulo, 1945) foi um dos fundadores do modernismo no Brasil e principal responsável pela realização da Semana de 22. Exerceu por meio de seus escritos e pesquisas grande influência nos estudos sobre a cultura popular e erudita brasileiras. Trabalhou como professor de música e colunista de jornais, sendo conhecido, sobretudo, como romancista e poeta, principalmente por seu romance Macunaíma. 

Foi diretor-fundador do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, criador da Sociedade de Etnologia e Folclore de São Paulo e idealizador do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN.

Serviço
Exposição: “Mário de Andrade: etnógrafo-fotógrafo-poeta”. De 06 de agosto (abertura às 18h) a 27 de setembro, no Museu de Arte de Belém - Praça D. Pedro II, S/N – Cidade Velha - Belém – PA. Entrada: Franca. Classificação etária: livre. Patrocínio: Correios. Fone: (91) 3114 1026.

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