O ator Cláudio Barros (fotos: JM Condurú) |
A circulação nacional do espetáculo Solo de Marajó, do grupo paraense Usina Contemporânea de Teatro, contemplado com o Prêmio Myriam Muniz da Fundação Nacional das Artes (Funarte), começa por duas cidades baianas. A estreia será em Itabuna, no próximo dia 19, seguida de mini temporada em Salvador, nos dias 21 e 22.
A ideia da turnê Solo de Marajó nos solos de outros Brasis é levar a prosa Dalcidiana às terras de outros escritores regionalistas, cujas obras também refletem sua cultura.
Além da Bahia de Jorge Amado – itabunense de quem Dalcídio recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra –, o espetáculo visitará ainda o Ceará de Raquel de Queiroz, as Alagoas de Graciliano Ramos, a Paraíba de José Lins do Rego e o Rio Grande do Sul de Érico Veríssimo. Serão sempre duas apresentações nas capitais e uma na cidade natal de cada escritor.
O espetáculo foi criado a partir da obra do romancista Dalcídio Jurandir, natural de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, no Pará. Embora seja praticamente desconhecido pelo grande público, este caboclo marajoara é autor da maior saga da literatura da Região Norte, com dez romances publicados entre 1941 e 1978, e que reunidos constroem o maior testemunho literário de que se tem notícia sobre o modo de vida do homem que habita pequenas cidades e povoados na Amazônia.
Solo de Marajó estreou em 2009, em Belém, integrando a programação especial da Feira Panamazônica do Livro, o maior evento literário da região. Há seis anos, o espetáculo cumpre uma trajetória com inúmeras apresentações em todo o Pará, mas já ultrapassou as fronteiras do estado.
Em 2010, foi apresentado em São Paulo durante a I Mostra da Cena Paraense Contemporânea, e voltou à capital paulista no ano passado, integrando a programação da Virada Cultural.
A repercussão nacional se ampliou a partir de fevereiro deste ano, quando Solo de Marajó foi convidado para integrar a conceituada programação do Midrash Centro Cultural, no Rio de Janeiro. A receptividade de público e crítica foi tão boa, que resultou em outras cinco apresentações na capital fluminense e mais uma no município de Niterói, num período de apenas três meses.
O que tem surpreendido o público em todos os solos por onde passa é a ousadia da encenação. Sozinho sobre o palco nu, o ator paraense Claudio Barros, que em 2016 celebra 40 anos de intensa atuação na cena paraense, conta oito histórias tiradas do romance Marajó, o segundo de Dalcídio. Utilizando o corpo e a voz para construir as narrativas, a atuação estimula a imaginação do espectador, convidado-o a povoar o espaço vazio com a memória de pessoas e lugares.
Os temas das narrativas vão desde questões de cunho social, como racismo, exploração do trabalho, tráfico de crianças e prostituição, até o universo íntimo das relações amorosas, recheadas de paixão, dor, solidão, ciúme e vingança. Esta visão multifacetada do autor levou os criadores a uma dramatugia que não se preocupa em dar conta da fábula romanesca, mas acaba por construir um mosaico capaz de representar as relações humanas na Amazônia.
A montagem de Solo de Marajó dá continuidade à pesquisa do grupo Usina sobre o ator como narrador. As fontes para esta criação foram a observação do comportamento cotidiano dos habitantes de Ponta de Pedras, onde se passa o romance, e histórias de vida do próprio atuante.
Claudio Barros, 52 anos, começou no teatro em 1976 e tornou-se um dos mais notáveis atores paraenses de sua geração, com passagem por grupos importantes na cena contemporânea local como Experiência (onde integrou o elenco original de Ver de Ver-o-Peso, famosa ópera cabocla, há mais de 30 anos em cartaz), Cena Aberta e Cuíra do Pará, do qual é um dos fundadores. Atua também no cinema, como produtor e preparador de elenco. Desde 2009, integra o núcleo de criação da Usina Contemporânea de Teatro, atuando em Solo de Marajó.
Alberto Silva Neto, 45 anos, começou no teatro como ator, em 1987. É também diretor, mestre em Artes Cênicas e professor da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA). Tem passagem pelos grupos Palha, Experiência e Cuíra do Pará. Nos últimos dez anos, dirige as criações da Usina Contemporânea de Teatro, do qual é um dos fundadores, investigando possibilidades para uma poética amazônida, inspirada nos modos de vida do povo caboclo (fruto da miscigenação entre índios e brancos), ancorada na figura do ator como contador de histórias.
Ficha técnica
Atuação e figurino: Claudio Barros. Direção e iluminação: Aberto Silva Neto. Dramaturgia: Alberto Silva Neto, Carlos Correia Santos e Claudio Barros. Projeto gráfico: Marcela Conduru. Fotos: JM Conduru. Produção: Sandra Conduru.
Serviço
Apresentação única em itabuna no dia 19 de agosto, às 20h, no galpão 59 espaço cultural (rua pirajá, 59), com entrada gratuita. Mini temporada em salvador nos dias 21 e 22 de agosto, às 18h, no teatro vila velha (av. Sete de setembro s/n), no regime pague quanto puder. Duração: 56 minutos.
Mais informações: netosilvaalberto@gmail.com /(Holofote Virtual, com informações do diretor do espetáculo Alberto Silva Neto)
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