27.8.15

Vertigem leva seu “Trunfo” às praças de Belém

Fotos: Débora Flor
Em cena, munidas de equipamentos de circo e manipulando cartas do Tarô, estão Marina Trindade, Katherine Valente e Inaê Nascimento, atrizes que estudaram a encenação de onze atos, que compõem o jogo do espetáculo intitulado "Trunfo". Cada um deles está relacionado a uma das cartas representativa do tarô, que foram artisticamente elaboradas para as cenas. “É um Jogo, além do jogo de cena, do teatro em si.”, diz Paulo Ricardo Nascimento, diretor do espetáculo.

Depois da pré estreia, na semana passada, no Casarão do Boneco, “Trunfo”, Prêmio Funarte Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo 2013, ganha as ruas, com apresentações nesta quinta, 27, e na sexta, 28,  às 17h, na Praça D. Pedro I, e dias 3 e 4 de setembro, às 20h, na Praça da República.

O espetáculo envolve o espectador desde o primeiro momento. O público é convidado a escolher as cartas que vão reger a encenação. As atrizes ainda as embaralham antes de ordená-las para a leitura. As interpretações vão guiando Marina, Inaê e Katherine.  Em cada apresentação, uma nova combinação de cinco cartas é sugerida. Dificilmente uma sequencia se repetirá.

“Trunfo é um desafio para as atrizes, que se deparam sempre com sequências ainda não experimentadas, e também para os operadores técnicos de som e luz, que precisam fazer uma espécie de nova edição de movimentos junto com as meninas no palco”, explica Paulo Ricardo, que também aposta: “os que gostam de Tarô vão querer ver sempre”.

“A montagem de Trunfo iniciou vários meses atrás, passando por um processo de criação e oficinas que trabalharam o corpo do improviso, leituras e tempestades de ideias para chegar às cenas que são guiadas a partir das cartas que o público tira no início do espetáculo”, explica a atriz Marina Trindade.

Elaborado de forma colaborativa, "Trunfo" é fruto de uma profusão de cabeças criativas do teatro realizado em Belém.  “O trabalho com o Vertigem é muito colaborativo, assim como todo o processo de construção criativa, desde os cafés-tarôs que realizamos reunindo várias pessoas convidadas, até o processo de produção e coordenação ao lado da Marina. A ficha técnica é enorme porque aqui existe o exercício constante de se ouvir e trocar”, diz Tainah Fagundes, da produção executiva.

O encontro com o Tarô

Ainda que de carreiras recentes, Marina, Inaê e Katherine acumulam experiências diversas que as colocam em lugar ora de conforto, ora de desconforto dentro do jogo de cenas. Elas formam o grupo Vertigem, que vêm a alguns anos investigando o universo cênico do circo, quando se depararam, em 2013, com o universo do tarô, uma sugestão trazida ao grupo por uma delas.

“Foi a Inaê que trouxe a proposta do Tarô para o espetáculo. Em principio ela queria trazer apenas as imagens das cartas para o tecido aéreo, mas pensamos que poderia ser algo mais”, conta Marina Trindade, que diz nunca ter tido um interesse maior pelo tarô antes do espetáculo.

Já Inaê, que estudou oceanografia para depois mergulhar no teatro e circo, diz que o tarô está em sua vida desde pequena, porque havia cartas em casa. “Eu estava sempre curiosa e meu pai acabou me dando um tarô mitológico, que eu não tinha noção do que ele representava e eu usava pra contar as histórias da mitologia grega que eu reconhecia nele pra minha irmã casula”, diz ela, que depois aprofundou seu interesse e não deixou mais de consultar as cartas.

“O tarô pra mim é um super conselheiro, sempre que eu preciso clarear um sentimento ou pensamento tiro uma carta ou faço um jogo. Enfim, uso o tarô como uma ferramenta de meditação e autoconhecimento”, revela.   

A curiosidade também foi o caminho da atriz Katherine para seu encontro com o Tarô. “Sou uma curiosa! Já tinha tido um contato com cartas de tarô no grupo que eu fazia parte. Por lá tive a oportunidade de fazer alguns jogos... Sempre ‘pescando pelas beirinhas’, uma coisa aqui, outra lá, mas nada tão profundo”, conta.

Circo - lugar de passagem

Embora as atrizes do projeto Vertigem venham cada uma de uma experiência diferente nas artes, é o universo do circo que as une. “Acho que assim como no teatro, o circo em Belém, tem vários momentos e hoje, pós oficinas, principalmente no Curro Velho e na Cia Atlética, estamos em um momento de grande troca, de produção, tem grupo saindo pronto do Curro Velho, amigos indo se apresentar fora do país, em circos... Na verdade os caminhos do circo são diversos, ainda mais hoje com a contemporaneidade, tem gente que trabalha em eventos, espetáculos pra crianças, na rua, com malabares, passando o chapéu”, diz.

Marina acredita que o circo em Belém hoje é um lugar da diversidade, mas ainda falta apoio e políticas públicas que fortaleçam o que o edital da Funarte vem construindo em todo o país, com estes prêmio de montagem e circulação.

“A gente ainda não se reconhece enquanto iguais, não temos uma associação, uma organização e isso gera dificuldades, deixa a desejar, mas tudo é um processo, o circo é um lugar de passagem, as pessoas estão sempre transitando. Não é como em São Paulo e Rio de Janeiro, onde você já encontra circos fixados na cidade”, desabafa.

Para Inaê, fazer circo em Belém é um risco... “Acho que ser artista é muito arriscado. É financeiramente instável, as políticas públicas que existem não são coerentes, principalmente pra Amazônia, as pessoas não botam fé, exige uma perseverança, uma vontade muito grande pra fazer arte. Ser artista circense então soa quase surreal. Boto muita fé nas pessoas que vivem de e para fazer arte, seja qual for. É muito corajoso, é muita resistência”, dispara.

Já Katherine, diz que o circo é também como fazer teatro! “Você trabalha muito, sofre muito, mas o pagamento vem quando você vê que o seu trabalho tocou especialmente alguém”, ressalta.

O jogo da cena e a cena do jogo

Focadas no novo espetáculo do Vertigem, Marina, Inaê e Khaterine, dizem que a experiência em “Trunfo” tem sido de crescimento e aprendizado. O desafio é encarado com afinco e generosas contribuições que cada uma traz ao grupo de suas origens diversas.

“Tenho uma experiência maior talvez com manipulação de objetos, mas a gente busca ousar a apresentar sempre algo novo. Eu trouxe um novo malabares pra cena, o Bugeng, que poucas pessoas usam hoje em Belém. Também trabalho com a lira, um equipamento aéreo, que comecei a treinar para este espetáculo. Tudo isso vem nos permitindo aperfeiçoamento. Eu tento contribuir com um olhar mais artístico, com a minha experiência com dança e ginástica rítmica também, mas tudo é treinamento”, diz Marina.

Em cena, as meninas precisam dar o texto, fazer acrobacias e encenar ao mesmo tempo. “Isso pra mim é bastante difícil, principalmente porque não tenho base de teatro. Fazer acrobacia é brincadeira, exige preparo físico, treinamento técnico, condicionamento, segurança, mas é "molecagem", mas fazer isso dando texto e encenando exige uma bagagem técnica e uma concentração que me falta. Às vezes fico perdidinha, exausta, dá vontade de dizer "Falô! vou voltar a ser só público", brinca Inaê.

Para ela, o maior trunfo do "Trunfo" é a plateia. “Pessoalmente, é o terceiro espetáculo que eu faço, e a cada processo de criação é um aprendizado. Acho que a grande sacada do Trunfo é o público tirar a nossa sorte. Toda apresentação será um Trunfo diferente e único. As pessoas vão ter que assistir todos os dias! Hehehe”, comenta.

Katherine acredita que o espetáculo maior é o encontro que Trunfo proporciona entre pessoas e das pessoas com a metáfora das cartas. “Eu acho que o maior trunfo do Trunfo é agregar! Agregar diversas técnicas, agregar plateia e atuantes em jogo, agregar a magia material e física com a magia simbólica”, diz.

Ficha técnica: 
Elenco: Marina Trindade, Inaê Nascimento e Katherine Valente / Direção: Paulo R. Nascimento / Criação de Cenas: Inaê Nascimento, Marina Trindade, Paulo Ricardo Nascimento, Tati Benone, Katherine Valente/ Trilha Sonora: Armando de Mendonça/ Operação de Sonoplastia: Armando de Mendonça e Paulo Ricardo Nascimento/ Cenografia: Starllone Souza/ Confecção das cartas: Victoria Rapsodia/ Figurino: AnibalPacha, Nanan Falcão/ Iluminação: Malu Rabelo/ Assistência Técnica de Luz: Lucas Alberto/ Logística: Rafael Café, Juan Cabral e Paulo Ricardo Nascimento/ Consultorias Artísticas: AnibalPacha; Michele Campos de Miranda; Tati Benone; Marcelo Siqueira David (Feijão).

Realização: Projeto Vertigem
Coordenação de Projeto: Marina Trindade
Produção e Comunicação: Três Cultura Produção Comunicação
Produção Executiva: Tainah Fagundes
Assessoria de Imprensa: Luciana Medeiros
Fotografia: Débora Flor
Arte Gráfica: Lucas Gouvea

Agradecimentos: AnibalPacha; Dandara Nobre; Iolane Nobre; Kátia Fagundes; Luana Weyl; Mariléia Aguiar; Tainah Fagundes; Tati Benone; Victória Sampaio; Luana Peixoto; Mayara La-Roque; Maria Esperança; Débora Flor; Michele Campos; Virginia Abasto.
Patrocínio: Prêmio Funarte Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo 2013
Apoio: Casarão do Boneco; In Bust Teatro com Bonecos; Vida de Circo e Pirão Coletivo
Mais Informações: www.facebook.com/projetovertigem /projetovertigem@gmail.com

Serviço
“Trunfo". Dias 27 e 28, na Praça D. Pedro II (Ver-o-peso), às 17h. Nos dias 3 e 4 de setembro, as apresentações serão às 20h, na Praça da República, próx. ao Theatro da Paz.   Produção e Comunicação: Três Cultura Produção Comunicação.  Apoio: Casarão do Boneco; In Bust Teatro com Bonecos; Vida de Circo e Pirão Coletivo.

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