As obras, assinadas pelo artista paraense And Santtos, incluem os murais "Manto Tupinambá", "Território Mairi" e "Jacei Tatá Tupinambá" (Céu Tupinambá), além da já inaugurada Sala Verônica Tembé, foram pintadas ao longo do primeiro semestre.
Para a coordenadora do PPGL e do Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas (GEDAI), Ivânia dos Santos Neves esta é uma oportunidade de pluralizar ainda mais a universidade, que há bem pouco tempo, com o início da política de cotas, possibilitou a entrada de indígenas. No PPGL, de acordo com ela, a presença indígena é visibilizada de forma múltipla, tanto politica como esteticamente.
"Das nossas linhas de pesquisa às nossas paredes, temos compromisso com os povos indígenas da Amazônia. Para nós, é uma felicidade trazer a ancestralidade indígena, por meio da arte, no espaço da Universidade, onde há pouco tempo não se falava sobre práticas culturais e saberes dos povos originários. No PPGL só em 2020 estabelecemos as cotas, a presença das nossas doutorandas indígenas, Márcia Kambeba e Jucicleide Pereira (Whapichana), nos abre a oportunidade para pensar sobre a presença dos saberes indígenas dentro da nossa universidade”, avalia.
Conexão ancestral com a região amazônica
Antes da invasão europeia, a vasta região que hoje abrange os estados do Pará, Maranhão, Amapá e Amazonas era conhecida pelos povos indígenas como Mairi.
Esse termo, de origem Tupi antigo, refere-se ao território sagrado onde habitavam os filhos de Maíra, o ancestral primordial dos Tupinambá. Para muitas etnias, Maíra é uma figura central na cosmogonia indígena, Maíra, ancestral responsável pela criação de rios, floresta, homens, mulheres e todo o tipo de saberes.
“Desde 2019 a gente vem falando de Mairi, com pesquisa, publicação de artigos, documentários, apresentações artísticas, realização de eventos que possibilitem conhecermos mais detalhes sobre a nossa ancestralidade indígena. Recentemente, durante a realização da SBPC na UFPA, o GEDAI apresentou a roda de conversa ‘Mairi e o Manto Tupinambá: a ancestralidade indígena em Belém’, no mesmo evento havia uma tenda chamada “Mairi”, nós já tivemos projetos da prefeitura intitulados “Mairi”, e agora temos o ‘Território Mairi’ na parede externa do nosso prédio”, enfatiza Ivânia Neves.
And Santtos traz Odivelismo para ressaltar Mairi
O artista visual And Santtos é autodidata, nascido no município de São Caetano de Odivelas, no Pará. Teve sua infância à beira do Mojuim, rio que banha sua cidade natal, onde passou maior parte de sua adolescência produzindo, abrindo letras em canoas e barcos.O interesse pela arte veio associado a trinchas, sprays, tintas e pincéis em telas, painéis, fachadas de comércios, barcos de pesca, cenários e muros urbanos, indo aos poucos identificando sua própria técnica e linguagem.
O Odivelismo, estilo criado pelo artista, retrata o imaginário popular amazônico com uma linguagem livre e espontânea, rica em cores e elementos regionais. Inspirado por suas raízes e pelo cotidiano, o artista referencia o “Boi de máscaras” de São Caetano de Odivelas, refletindo um olhar crítico e poético sobre a vida dos moradores dessa região.
“É emocionante trazer este trabalho sobre nossas raízes e ancestralidade”, diz o artista escolhido para grafitar o Manto Tupinambá no PPGL. “Reconhecemos este território como Mairi, e a preservação deve partir de nós, em todos os sentidos: ambiental, cultural e social.”
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