Texto de Luiza Cabral
Em tempos de disparos digitais acelerados, o retorno a fotografia analógica - do revelador e da imprecisão dos sistemas manuais - tem cada vez chamado mais atenção de artistas e pessoas comuns, que descobriram na caixa preta um hobby divertido e de inúmeras possibilidades estéticas. Essa maré que trouxe as câmeras de filme de volta aos holofotes serviu de estopim para a formação do Câmera Aberta, que se apropria desta linguagem para discutir não só resultados, mas principalmente processos. O coletivo apresenta seu trabalho em todas as manhãs dos domingos de agosto, na Praça da Repúlica.
Composto por cinco fotógrafos que tiveram o projeto premiado por um edital da Pró-reitoria de Extensão da Ufpa, o Coletivo Câmera Aberta está na ativa desde o final de 2011 e vem traçando um caminho de experimentação marcado pelo discurso político em suas ações.
Na agenda do grupo atividades como a realização de oficinas, a ativação de um laboratório de fotografia no Museu da Imagem e do Som (MIS) e a intervenção urbana Foto Escambo, iniciativa que leva às ruas uma alegoria parafernálica, em que fotografia é trocada por conversas, objetos, novas amizades e alguns trocados.
Essa frente de trabalho do Coletivo pode ser conferida pelas pessoas aos domingos do mês de agosto, pela manhã, na Praça da República.
Outro mercado de arte é possível e necessário.
Quando Hugo Nascimento, Camila Aranha, Beth Viana, Luana Lobato e Yuri Amorim se uniram para dar forma ao Câmera Aberta um debate volta e meia estava em pauta: a forma como a estrutura mercadológica vigente engole e se apodera dos processos artísticos.
Esta reflexão tem como base a ausência de espaços acessíveis para a realização de trabalhos com fotografia analógica.
"Se levarmos em consideração a cena de Belém e nossos nomes consagrados, todos passaram pelos processos analógicos/laboratoriais. Na nossa cidade esta prática é refém de quartos escuros privados, que intermedeiam etapas do processo e nos distanciam da construção poética por completo", compreende Hugo.
Com estas instigações em mente, o Coletivo Câmera Aberta firmou parceria com o MIS e começou a trabalhar na revelação de filmes do projeto em uma sala do prédio do museu. Em contrapartida, o grupo trabalhará, junto com o corpo técnico da instituição, na restauração de fotogramas que integram o acervo de lá.
Outra ideia do coletivo para impulsionar o pensamento acerca da linguagem é a realização de oficinas, que serão ministradas no segundo semestre deste ano. O objetivo é socializar o conhecimento adquirido com as experiências em grupo, estimular novos olhares sobre esta expressão artística e refletir sobre possibilidades autônomas de produção.
A solução é o escambo!
Um carrinho de supermercado passeia por Belém e deixa em seu caminho olhares curiosos. Também, pudera: não havia como não chamar atenção.
Cheio de cores, o automóvel alternativo é todo ilustrado com fotografias analógicas. São postais, imãs de geladeira e imagens ampliadas que se misturam com elementos decorativos que remetem a uma estética popular, comum a região amazônica.
A escolha por uma estrutura itinerante não se justifica apenas por motivos estéticos. A opção pelo carrinho surgiu como evasão à própria legislação municipal, que não permite exposições físicas em espaços públicos sem prévia autorização.
Com este formato subversivo e inovador, o Câmera Aberta vem fazendo expedições lúdicas na Praça da República aos domingos. Em troca das imagens expostas no carrinho, o grupo aceita todo e qualquer tipo de “moeda”, daí surge o título sugestivo da ação.
“O Foto Escambo não é um comercio. É uma relação de trocas simbólicas, afetivas e até de arte por arte, só que na rua e não numa galeria”, explica Camila.
E assim, do supermercado, que é o contemporâneo, o Coletivo só traz o carrinho para com ele inventar outro caminho.
Serviço
Foto Escambo, todos os domingos de agosto, pela manhã, na Praça da República.
Conheça melhor o CCA: facebook/coletivocameraaberta, cameraaberta.wordpress.com
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