6.8.12

Eclipse total dos sentimentos no cineclube do IAP

O capítulo final do tratado sobre a contemporaneidade segundo um mestre. “O Eclipse”, filme de Antonioni que reúne sua musa inspiradora Monica Vitti ao deslumbrante Alain Delon, será exibido nesta segunda, 06, às 19h, no cineclube do IAP, em sessão única, na retomada da parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Pará neste segundo semestre. 

Conclusão da trilogia da incomunicabilidade e da tetralogia de filmes protagonizados por Vitti, “O Eclipse” é sem dúvida o filme mais complexo de Michelangelo Antonioni até então. 

Rodado em 1982 na França, traz Vittoria (Vitti) que, após brigar com o namorado, encontra por acaso Pietro (Delon), um sedutor corretor da Bolsa de Valores. Materialista e hedonista, ele acaba sendo objeto da paixão de Vittoria, mas apesar de retribuir o desejo dela, não se interessa por um relacionamento sólido com a jovem.

É a personagem de Vitti, quem encarna a personificação da deficiência em estabelecer um relacionamento e é quem possui questões existenciais mais profundas. Um belo contraponto da menina humilde com o jovem burguês despido de moral como é o personagem de Delon, preocupado em ganhar mais e mais dinheiro. 

O amor que os liga, não estabelece um elo. Os dois se debatem em silêncio por suas deficiências em tornar o amor que os envolve, em algo real. O jogo de sedução é feito de palavras vãs e interrompido pelo tédio que os consome. O incômodo que sentimos do lado de cá ao ver duas criaturas tão belas engessadas por seus egos inflados ou personalidades instáveis, é tão proposital e exaustivo, quanto é complexo. 

Cortesia de Antonioni, um cineasta que investigou os recônditos mais obscuros das mentes e aspirações em tela grande e expôs os problemas de uma sociedade em progresso concreto e que se desassociou de valores e sentimentos. Nessa perspectiva, este filme pode ser compreendido como ensaio sobre o amor – e principalmente sobre a ausência dele – e suas precipitações.

É um filme que exige paciência para nos brindar com momentos sublimes como poucas vezes se viu no cinema. Vendo Vittorio e Pietro lutando ou se acomodando perante a eminência do fim de sua história, é um sabor de tragédia que nos afaga, acompanhada da sensação de eclipse do sentimento no vazio que os afasta. Importante ressaltar a qualidade dos diálogos e do roteiro, escrito mais uma vez pelo grande Tonino Guerra. 

Ele inverteu a lógica e jogou a fórmula do roteiro clássico no lixo, dando um vigor à forma e conteúdo e entregando argumentos maravilhosos como “Blow Up” (também de Antonioni), e “Amacord”, de Felinni. "O Eclipse" ganhou o prêmio especial do Júri no Festival de Cannes em 1963.

Serviço
Cineclube Alexandrino Moreira. Teatrinho do IAP. Sempre às Segundas-Feiras. Praça Justo Chermont, 236, Nazaré - Belém-PA. Informações: (91) 4006-2918. Entrada Franca.

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