“Desvio para o vermelho - 13 poetas brasileiros contemporâneos” reúne poemas ainda inéditos em livro. Organizada pela professora Marceli Andressa Becker, autora dos blogs “De ter de onde se ir”, "Mallarmargens" e "Língua Epistolar”, a obra sai pela Coleção Poesia Viva do Centro Cultural de São Paulo - CCSP, em formato de plaquete, e será lançada dentro da programação do I Seminário de Ação Poética que acontece na capital paulista esta semana.
Instituições, poetas e professores que trabalham na difusão e na promoção da poesia estarão reunidos no I Seminário de Ação Poética, que acontecerá de 14 a 17 de agosto, no Centro Cultural São Paulo e na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. O evento terá mesas de debates, recitais de poesia, shows musicais, mostra de videopoesia, lançamentos de livros e revistas, entre os quais uma miniantologia de novos poetas.
"Poesia Viva" é uma coleção de plaquetes de poesia brasileira contemporânea organizada pela Curadoria de Literatura e Poesia do Centro Cultural São Paulo, com o objetivo de divulgar autores de qualidade e representativos de nossa literatura contemporânea, de diversas gerações, tendências e estilos, novos ou consagrados.
Nesta edição, além de Vasco Cavalcante, também foram convidados a integrar a obra, os poetas Daniel Faria (MG), Diogo Cardoso (SP), Gabriel Resende dos Santos (RJ), Jonatas Onofre (PE), Luciana Marinho (PE), Marceli Andresa Becker (RS), Nuno Rau (RJ), Nydia Bonetti (SP), Paula Freitas (SP), Raul Macedo de Lima (RJ), Roberta Tostes Daniel (RJ) e Viktor Schuldtt (SP).
“Apesar de ser uma mini-antologia, fico muito grato de ter sido convidado. Estar participando dessa publicação é uma grande emoção e uma prova de reconhecimento pelo trabalho poético que venho desenvolvendo ao longo desses anos”, diz Vasco.
Quando pergunto como aconteceu a seleção dos poemas, Vasco explica que nenhum deles foi selecionado pelo CCSP. “Como fomos convidados pediram dois poemas para cada um, à escolha do próprio autor, mas tenho uma dificuldade enorme de fazer curadoria do meu próprio trabalho, então pedi a uma amiga dileta, poetisa, que escolhesse um entre tantos, aí fiquei com a missão de escolher mais um, piorou tudo, mandei outros dois para a Marceli Becker, para que ela escolhesse um”
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Vasco Cavalcante |
Curtos - Vasco nos explica que seus poemas costumam ser curtos, mas dizem muito do momento que ele está vivendo.
“Minha escrita poética me traduz, e apesar de meus poemas serem uma busca e um espelho do que eu sou, procuro não prendê-los a mim, largo-os para que cada um encontre seus espelhos refletidos nas palavras e nas imagens que o compõem, por isso não sou muito afeito a declamações, nunca declamo meus poemas, porque acho que cada pessoa que o lê, deve buscar suas próprias interpretações, sua própria voz neles”, revela o poeta.
“Todo poema tem versos que dizem, que gritam, respiram, silenciam... Muitas vezes, dentro de um poema, o silêncio fala muito mais do que as palavras contidas nele. Quando trabalho um poema, espero que ele me diga à que ele veio, busco em uma relação palavra/música/espaço/silencio, a melhor forma de expressar minhas vivencias e seus significados, mas com essa ideia dele ser reconstruído na leitura individual de cada um”, continua.
“Minha relação com as palavras é uma relação de libertação e descoberta. O poema me constrói, às vezes sou página de um livro, outras sou palavra, outras silêncio, e essa troca de papéis sempre há entre nós nesse momento de devaneio, no ato da criação poética. Não vivo sem isso, sou parcimonioso na escrita, custo muito a escrever e a concluir um poema. Às vezes, 10 linhas se transformam em uma, ou duas”, confessa.
Mas também diz que às vezes ocorre o contrário. “Max Martins dizia que só terminava um poema quando o publicava, antes disso ele era um poema em processo de constante transformação. Eu, mesmo depois que publico fico numa angustia danada, porque o relendo tenho vontade de modificá-lo, interferir nele em função de minhas mudanças, os novos olhares, minhas reconstruções internas. Essas releituras eternas têm tanto na escrita como no meu olhar sobre a vida, minha relação com o mundo ao redor, com as pessoas”.
Vasco acredita no ser humano em constante mutação. “O dia que pararmos de nos permitir releituras, mudanças, morremos mesmo vivos. A poesia e a filosofia nos ensinam muito sobre isso, todo o ser humano deveria ter um olhar mais direcionado a elas, viver é mais que isso que se vê. 'Sim, é mais além', M.Martins”, cita.
Grupo surge no início dos anos 1980 |
Fundo de Gaveta - Atualmente design gráfico e Web designer na empresa Sol Informática, Vasco Cavalcante deu início à sua jornada literária ainda em 1980 com a publicação do primeiro envelope de poesia alternativa, juntamente com William Silva (William Paulo Castro da Silva).
Chamado “Sangria”, todo produzido artesanalmente, o feito marcaria também o surgimento do Fundo de Gaveta, grupo fundado no ano seguinte, em 1981, reunindo além de Vasco e William, Celso Eluan, Jorge Eiró, Iru Bezerra e Zé Minino.
Este ano, aliás, o grupo que chega ao 31º aniversário, ganhará espaço na 16ª edição da Feira Pan Amazônica do Livro além de homenagear Portugal e ter como patrono o maestro Wilson Fonseca, celebrando seus 100 anos de nascimento, irá focar, também, a literatura brasileira independente, que trabalha com tiragens menores ou artesanais.
Neste sentido, o Fundo de Gaveta, como iniciativa independente de poesia em Belém, não poderia faltar. Acertado o convite da Secretaria de Cultura do Estado. O grupo se reuniu na semana passada para discutir os detalhes da participação e agora aguarda as últimas definições para agendar a sua data na programação que inicia no dia 21 de setembro.
Os poetas nos anos 1980, em entrevista coletiva |
Sites - Não deixe de conferir o site do Fundo de Gaveta, com fotos, poemas e entrevistas. Está ali a memória viva do grupo. Acesse, aqui.
Vasco também é criador do site O Poema, contendo resumo biográfico e poemas de autores consagrados no século XX e que é desenvolvido como extensão do Cultura Pará, no ar há 15 anos, contemplando artistas paraenses das mais diversas áreas. “Desvio para o Vermelho”, porém, não é a primeira antologia da qual participa.
Na década de 1980, ele foi publicado em “Poesias: coletiva” (Edições SEMEC-85) e tem textos poéticos no livro "Porque hoje é sábado", do fotógrafo Bob Menezes. Além disso, Vasco tem poemas publicados nas revistas Revista Zunái e Polichinello.
“Para mim foi uma grata surpresa ter sido convidado pelo Centro Cultural de São Paulo para essa pequena antologia com poetas brasileiros contemporâneos, principalmente porque o trabalho desses autores que estão na plaquete junto comigo como convidados é de altíssima qualidade, belos poetas”, diz ele.
“A organização de Marceli Becker é muito arrojada, o grupo muito bem pincelado para compor a obra. O CCSP é uma referência pelos trabalhos que desenvolve em prol do movimento artístico-cultural no país, venho acompanhando pelo site do Centro toda a atividade desenvolvida por ele ao longo desses anos, com uma pitadinha de inveja por não termos nada parecido aqui em nossa região”, finaliza.
Acima, a Casa das Rosas, em Sampa |
O conselho editorial da coleção é formado por autores respeitados em nossa crítica literária: Heloísa Buarque de Hollanda, Luiz Costa Lima, Leda Tenório da Mota, Maria Esther Maciel e Antônio Vicente Seraphim Pietroforte. Cada título da coleção Poesia Viva tem tiragem de 500 exemplares e a distribuição é gratuita.
As plaquetes podem ser retiradas pelo público na recepção das Bibliotecas do CCSP, na Central de Informações e na Bilheteria do Centro Cultural. Veja aqui, exemplo de algumas plaquetes anteriores, publicadas pelo projeto literário Coleção Poesia Viva .
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