28.5.11

Teatro contemporâneo paraense na cena paulista

Cláudio Barros
Nesta sexta-feira, 27, o espetáculo “Solo do Marajó” abriu a I Mostra Amazônida de Experimento Teatral, na sede Luz do Faroeste, em São Paulo. Em cena, o ator Cláudio Barros. O diretor da peça, Alberto Silva Neto, também esteve presente. Nos dias que se seguem, ainda serão mostrados quatro espetáculos produzidos em Belém. Em entrevista ao Holofote Virtual, Paulo Faria, que conseguiu reunir todos eles na capital paulista, conta os detalhes que o levaram a montar a mostra.

São todos solos. Os outros quatros são “Morgue Insano and Cool” (18h), com Nando Lima, e “Red Bag”, com Jeferson Cecim, que ocuparão o espaço no sábado, 28 e “A Mulher das Sete Saias” (18h), com Mariléa Aguiar, e Makunaíma (19h), com Milson Aires, que se apresentam no domingo.

Como aconteceu isso? De acordo com o ator, autor e diretor de teatro, Paulo Faria, também paraense, foi coincidência, provocada, também, por uma vontade que ele já nutria em trazer a cena contemporânea paraense de teatro para a capital paulista, onde já mora há muitos anos dirigindo a Cia Pessoal do Faroeste, cuja sede recebe a mostra.

Em maio, Paulo esteve em Belém, participando do II Seminário de Dramaturgia Amazônida, realizado pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, onde palestrou sobre “A história contemporânea paraense no texto teatral - o povo está no teatro que a gente cria?”.

O evento teve como convidados, palestrantes que vieram de Manaus, como o escritor Márcio Souza, demonstrando que a discussão unia Amazônia e Pará, com Rondônia e Amapá, e que estava querendo dialogar com uma dramaturgia da floresta. Tudo isso e outras questões estavam só anunciando o que viria depois fervilhar na cabeça de Paulo Faria. 

Milton Aires e seu Makunaíma (foto: Holofote Virtual/LM)
“Entendi que era necessário falar da Amazônia. Achei muito legal que a Escola de Teatro esteja se aproximando de Manaus, para trocar, para se reconhecer, para se fortalecer artística e politicamente.

Belém está num ponto, como disse a Wlad Lima, no Seminário, entre a Amazônia e o Brasil.

É como um portal, porém não dialoga nem com o Brasil e nem coma Amazônia. Conversei sobre isso com Márcio Souza e com o Sérgio Cardoso, sobre esse momento fértil dessa rede de Teatro da Floresta. Em dezembro deve vir pra cá a tribo de Manaus e faremos a II Mostra Amazônida”, conta.

Paulo Faria, que já foi entrevistado pelo blog, quando estava fazendo a adaptação da obra “Chovendo nos Campos de Cachoeira”, de Dalcídio Jurandir, para o espetáculo Eutanazio, da Cia Usina Contemporânea de Teatro, mais uma vez, atendeu o Holofote Virtual e relata, abaixo, que está querendo muito mais do que somente realizar uma mostra de teatro do Pará em São Paulo.

“Aproveito a Mostra também para divulgar um pouco o trabalho do Lúcio Flavio Pinto, numa pequena exposição com alguns livros, jornais e um texto da Rose Silveira sobre seu trabalho. Política e estética, sempre”, diz Paulo, que também providenciou uma surpresa gastronômica ao público, que ele revela aqui, mas só no final da entrevista. 

Paulo Faria, na peça Meio Dia do Fim
Holofote Virtual: Pergunta que não quer calar. Como surge esta mostra?

Paulo Faria: Em janeiro, o ator Claudio Barros esteve em São Paulo e o convidei para fazer um final de semana, em maio, o seu espetáculo “Solo do Marajó”, a partir da obra do Dalcídio Jurandir, autor que eu também havia adaptado aí, o “Chove Nos Campos de Cachoeira” ou “Eutanázio”, para o mesmo diretor, o Alberto Silva. Agendamos. Há 3 semanas, o Jeferson Cecim veio reunir comigo para falar do nosso próximo projeto aqui em São Paulo: “Cine Camaleão – a boca do lixo”.

Ele trabalhará na equipe de cenografia. Foi quando me falou de seu espetáculo “Red Bag”, que estaria no mesmo período participando de uma Mostra do Teatro Truks aqui em Sampa. E o Nando (Lima) viria junto. O Milton Aires também está aqui.

Aí propus a todos de fazer uma Mostra aqui da cena contemporânea paraense. E durante a minha estada aí na semana passada para participar do “Seminário de Dramaturgia Amazônida”, a Mariléa Aguiar também topou vir para participar.

Holofote Virtual: Tantas “coincidências” te deram um estalo...

Paulo Faria: É preciso um movimento, mostrar para nossos governantes que é simples criar políticas públicas, basta querer. Inventar. Provocar. Este foi o caminho, mas o que me estimulou mesmo foi a possibilidade de fazer da Sede Luz do Faroeste uma segunda casa dos grupos de Teatro e poder mostrar para o público paulista um pequeno panorama do movimento teatral. Mostra a diversidade de linguagens, de propostas, a riqueza do movimento teatral hoje em Belém.

Morgue Insano (foto: Thiago Araújo)
Holofote Virtual: Além de abrir espaço, tens  outras intenções, então.

Paulo Faria: Meu objetivo maior é estreitar a minha relação artística com Belém e a Amazônia. Voltar a olhar e namorar com minhas referências, minha história. Quero muito desenvolver projetos como o que faço aqui, envolvendo a cidade, sua história, seus habitantes.

Holofote Virtual: E como tu pretendes agir para alcançar estas metas?

Paulo Faria: Quero desenvolver mais parcerias com os artistas locais, com a Escola de Teatro, poder de alguma forma possibilitar intercâmbio entre a cidade e São Paulo. Tem muita coisa sobre o que falar de Belém. Muita coisa para ser denunciada. Para ser recuperada. Poesia cáustica. Transformar a Sede Luz numa embaixada cultural paraense, possibilitar que artistas de Belém venham se reciclar, trocar com outros artistas, misturar mais, provocar-se mais.

E aqui também saímos ganhando, conhecendo o que é Belém hoje. Não agüento mais ouvir aqui em São Paulo noticias aterrorizantes sobre Belém. Violência, crimes. Mostrar também o que os artistas estão falando disso, mas propondo uma experiência humana mais potente, mais inteligente, fugindo do que a imprensa quer nos informar.

Temos que ver o que está acontecendo na Amazônia do ponto de vista dos artistas e não somente da imprensa e do governo. A Amazônia e o homem. Belém tem muito a dizer ao Brasil. Tem uma produção grande em teatro, música e dança. Aqui a única coisa que chega é a fotografia que tem cada vez alcançado espaços maravilhosos. Mas “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. O que é que Belém tem? Muita diversidade cultural. Vamos mostrar.

Mariléa, no solo A Mulher das 7 Saias
Holofote Virtual: E sobre a surpresa gastronômica?

Paulo Faria: Aproveitei minha estada aí e trouxe camarão, cupuaçu, bacuri, taperebá, muruci e maniva. Estou agora cozinhando a maniçoba para servir amanhã (nos falamos na quinta-feira). Quero muito que todos possam sentir o que temos a falar por todos os sentidos. No final das peças, banquete do círio. Pena que não consegui trazer a jamburana. Vai ser pai-dégua!

Um comentário:

Pessoal do Faroeste disse...

valeu, Luciana!
Espero que na II Mostra vc possa estar aqui para fazer uma cobertura.
bj
paulo faria