7.12.10

Sessão Cult e reflexões sobre a dobradinha Cine Líbero Luxardo e MIS-PA

Ao receber a programação do Festival de Filmes da Sessão Cult do Cine Líbero Luxardo, a memória me trouxe à tona: O Cine Líbero Luxardo é hoje um dos espaços mais antigos do circuito de exibição de cinema de arte ou simplesmente de filmes que não ficariam em cartaz nos cinemas comerciais de Belém.

Não lembro em que mês, mas o Cineminha do Centur foi inaugurado, há 24 anos, mais exatamente em 1986, para alegria dos cinéfilos da cidade, que passaram a ter festivais e mostras de filmes do cinema alemão, francês, italiano.

As programações semanais eram certas e logo nas primeiras gestões nasceu a preocupação com a formação de platéias. Muitos dos aficionados e estudiosos e críticos de cinema e até cineastas paraenses de hoje, nasceram ali, nas sessões malditas e cults do Líbero - sem desmerecer, de forma alguma, os saudosos e inesquecíveis Cinemas 1, 2 e 3, da São Pedro.

Foram muitos, os momentos de extrema fertilidade e outros de total indiferença com este cinema que faz parte da nossa história mais recente. Hoje, as sessões do Líbero vão de quinta a domingo, mantendo o padrão de excelência de uma programação que se reinventa para não sair da linha.

Esta semana, por exemplo, a Sessão Cult realiza um festival com os melhores filmes que esta programação exibiu durante o ano. Na quinta-feira, 09, será mostrado “O Oitavo dia”, de Jaco Van Dormael (Bélgica, França/1996/Drama) e na sexta-feira, 10, “O Vento será tua herança”, de Stanley Kramer (Estados Unidos/1960/Drama).

No sábado haverá duas sessões no Líbero. Na primeira, às 16h, será exibido “Sr. Ninguém, mais um filme de Jaco van Dormael” (Can/Bel/Fra/Ale, 2010), com bate papo após a sessão com os crítico da ACCPA – Associação de Críticos de Cinam do Pará e o público. 

A segunda sessão, às 19h30, terá “Cabaret”, de Bob Fosse (Estados Unidos/1972/Drama, Musical). No domingo, 12, fechando tudo, será mostrado “O Incrível Homem que encolheu”, de Jack Arnold (Estados Unidos, 1957/Ficção científica/terror).

Platéia no cinema no centenário de Líbero Luxardo
 Dobradinha Líbero x MIS – E a memória funciona assim, uma coisa vai trazendo a outra e lá vamos nós tecendo a história. 

É no Museu da Imagem e do Som do Pará que se encontram os filmes do cineasta Líbero Luxardo, que dá nome ao cineminha do Centur. 

Em 2009, o centenário de nascimento de Líbero foi comemorado com um belo evento que reuniu alguns de seus filmes restaurados e uma platéia divina, claro, no cinema que traz seu nome. A iniciativa foi de quem? Do Museu da Imagem e do Som do Pará.

O Museu da Imagem e do Som do Pará, nos anos 1980 e 1990, já fazia uma bela dobradinha com o cineminha, funcionava no quarto andar do Centur. Por conviverem em um mesmo espaço, o MIS gravava, no Líbero Luxardo, depoimentos de personalidades, artistas e políticos, material que faz parte de seu acervo. Por causa também dessa dobradinha, com certeza, é que se viu, em 1998, acontecer o restauro de “Brutos Inocentes”, um dos longas de Luxardo. Ainda tenho o cartaz desta sessão de lançamento.

O Mis-Pa, no MAS - ao fundo, poster com Eneida de Moraes
Muito mais antigo que o Cine Líbero Luxardo, o Mis parece carregar uma espécie de maldição: seguir sem ter sede própria, sendo jogado de lá pra cá, dentro de outros prédios públicos a cada gestão pública que passa.

Atualmente, situado no Museu de Arte Sacra, este importante museu ainda está por ver seu acervo organizado e preservado para o bem da pesquisa e da memória. Um verdadeiro atentado à nossa bagagem histórica audiovisual, que o diga Eneida de Moraes, que o fundou com esta preocupação em 1971.

Há boas notícias, porém. Está em andamento um projeto patrocinado pelo BNDES, com objetivo de digitalizar 20 filmes de seu acervo, dos autores Líbero Luxardo, Milton Mendonça, Alceu Massari e Giovanni Galo. O resultado está previsto para 2011. Um sinal de que resta, sim, preocupação com isso.

Mas como estamos em fase de transição de governo e, embora as especulações sejam muitas, não saibamos ainda quem será o novo secretário de cultura, é bom lembrar que uma parte do orçamento do PAC - Cidades Históricas para o Pará estaria destinado à sede do MIS-PA.

Acervo de películas
De acordo com as notícias e entrevistas veiculadas pela imprensa no mês de junho deste ano, o MIS seria finalmente contemplado, ao ganhar seu espaço próprio e devidamente adequado às suas funções, dentro do projeto de restauração do Teatro São Cristóvão, com uma obra orçada em R$ 4 milhões.

A idéia, segundo o que se divulgou, era iniciar as obras em janeiro de 2011, finalizado tudo até o mês de dezembro do mesmo ano. O que já se esperou por décadas será muito bem recebido, se concluído de fato em um ano.

Com uma sede própria e com um acervo restaurado e organizado quanto todos nós não ganharíamos? E quem sabe as dobradinhas do MIS, com o Cine Líbero Luxardo, não voltam melhores? A Sessão Cult incluiria filmes históricos do acervo do MIS, como o Cine Memória o fez, no curto tempo em que existiu como projeto do MIS, no auditório do Museu de Arte Sacra.

É bom pensar que tudo isso seja possível, assim como é justo dizer,  contudo, que  o Museu da Imagem e do Som ganhou avanços nestes últimos anos. E que seu acervo sonoro, que traz áudios importantíssimos, também está sendo digitalizado, felizmente, através de um outro projeto.

Um Dia Qualquer (Líbero Luxardo), já restaurado
Mas  ainda é pouco, muito pouco diante do que ele representa e do que poderia proporcionar a  todos nós e essa nova e eminente leva de estudantes de cinema da primeira e das muitas outras turmas que serão formadas pela UFPA, enquanto fonte de pesquisa e estudos. Por isso, é sempre bom lembrar...

Serviço
Sessão Cult. De quinta a domingo, às 19h30, com entrada franca. No sábado haverá duas sessões, sendo a primeira, às 16h30, com bate papo após a exibição. O Cine Líbero Luxardo fica no Centur, na Av. Gentil Bitteencourt, entre Quintino e Rui Barbnosa.


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